sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Águas algarvias mais quentes levaram as 49 tartarugas para zonas de risco

As 49 tartarugas marinhas encontradas mortas nas praias do Algarve, desde 1 de Janeiro, estão muito longe de constituir um cenário normal. As autoridades explicam o fenómeno com o aumento das temperaturas da água do mar que terão atraído os animais para perto da costa, das artes de pesca e do choque com embarcações.

Élio Vicente, biólogo marinho do Zoomarine, admite que encontrar 49 animais mortos é “muitíssimo anormal”. “Habitualmente encontramos, por ano, entre seis e oito tartarugas marinhas mortas nas nossas praias. O ano recorde foi 2006, com onze animais”, lembrou ao PÚBLICO. Só nas últimas cinco semanas foram encontradas sem vida 36 tartarugas-bobas (Caretta caretta), a espécie mais comum ao longo da costa portuguesa.

Numa nota divulgada esta tarde, o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) revela que vários dos animais “registam a presença de lesões exteriores, habituais no arrojamento de tartarugas em zonas com actividade pesqueira, por os animais se deixarem prender nas redes de pesca, morrendo antes de ser detectada a sua captura acidental”.

De acordo com o ICNB, este não será um episódio de natureza epidemiológica, antes resultando de uma alteração na zona de distribuição das tartarugas. O “aumento significativo da temperatura da água do mar que se tem verificado durante este Verão no Algarve” estará a atrair as tartarugas para a costa. Na verdade, “normalmente as tartarugas não são observadas junto da orla costeira”, constata o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. O padrão de distribuição destas espécies está, assim, a ser alterado, “potenciando a ocorrência de maiores concentrações em zonas onde normalmente o número de animais é mais reduzido”.

O problema é que é junto à zona costeira que se concentram mais ameaças às tartarugas, desde as artes de pesca que as prendem, aos plásticos que as sufocam e às embarcações com as quais colidem. É aqui que “a interacção com a actividade pesqueira facilmente justifica o número de arrojamentos verificado”, constata o ICNB.

Também as águas costeiras espanholas têm registado um elevado número de tartarugas, “facto sem dúvida associado às elevadas temperaturas da água do mar”. “Em Maio/Junho, na zona de Doñana (Espanha) foi registado um número anormalmente elevado de tartarugas marinhas vivas com claros sinais de terem sofrido interacções com actividades humanas”, conta.

O ICNB adianta que no caso de surgirem mais animais mortos nas praias, estes serão recolhidos para a realização de necropsias, a fim de determinar a causa da morte.

Para “despistar toda e qualquer possibilidade”, esta semana o instituto activou a recolha de amostras específicas para despistagem de patologias de origem vírica e bacteriana.

O arrojamento das tartarugas está a ser acompanhado pelo ICNB em articulação com as autoridades marítimas locais, Zoomarine e Sociedade Portuguesa de Vida Selvagem. De acordo com os dados recolhidos nos últimos dias, o instituto afirma que é possível que nos próximos dias os índices de mortalidade regressem à normalidade.

Fonte: Publico.pt

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