Bem pode vir o Governo voltar a invocar as “condições meteorológicas adversas” e os “incendiários” para justificar esta situação. Depois da catástrofe de 2003-2005 as melhorias verificadas no dispositivo de combate em 2007 e 2008 demonstram bem que com investimento público adequado em meios e recursos humanos, com outra organização do dispositivo de combate e a convocação e o envolvimento de todas as entidades e agentes mais directamente interessados e preocupados com o problema dos incêndios florestais – produtores florestais e compartes dos baldios e as suas associações, corpos de bombeiros, municípios, departamentos de instituições universitárias – este combate seria mais eficiente.
As políticas agro-rurais agravaram o abandono da agricultura e a desertificação humana e económica de muitas regiões, as políticas agro-florestais “arderam” e os cortes do PEC aprofundaram as carências de meios nas Áreas Protegidas. Os cortes financeiros estrangularam os serviços do Estado para a Floresta, foi o sistema de mobilidade especial dos trabalhadores, a reconfiguração da Direcção Geral dos Recursos Florestais (DGRF) na Autoridade Florestal Nacional, o desinvestimento drástico na floresta e no ordenamento florestal. Exemplos concretos: o Grupo de Análise e Uso do Fogo, criado em 2006, dotado de técnicos credenciados no uso e comportamento do fogo, passaram de um regime de recibos verdes na DGRF para uma situação de contrato até 17 de Novembro; nas Áreas Protegidas faltam muitos vigilantes da natureza e viaturas de 1.ª intervenção; cerca de 2000 viaturas de combate dos bombeiros necessitam de substituição e das prometidas 95 novas viaturas em 2007 muitas continuam por entregar.
O Governo pode continuar a invocar o calor e a humidade, mas só outra política agro-florestal e de reforço do Dispositivo Nacional de Combate aos Incêndios Florestais, sobretudo das Corporações de Bombeiros Voluntários, pode inverter esta triste realidade.
Fonte: Diário As Beiras
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