Os incêndios que estão a ocorrer nas serras da Madeira já queimaram toda a floresta da cordilheira central da ilha e destruiram 95 por cento do Parque Ecológico do Funchal.
Para o ambientalista Raimundo Quintal, presidente da Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal, este é “um desastre bem mais grave, em termos ecológicos, que o temporal de 20 de Fevereiro”, embora sem vítimas humanas.
Do Pico do Areeiro ao Pico Ruivo, a biodiversidade foi profundamente afectada, descreve Raimundo Quintal. "O melhor núcleo de vegetação de altitude foi literalmente arrasado", acrescenta o ambientalista referindo que uma pequena população desorveira (Sorbus maderensis) desapareceu. Desta espécie endémica apenas sobreviveu na natureza uma árvore na Bica da Cana, no planalto do Paul da Serra.
Importantes áreas de Laurissilva na Fajã da Nogueira e na bacia hidrográfica da Ribeira Seca do Faial também estão a ser molestadas pelo fogo. "Uma enorme delapidação da biodiversidade e um monstruoso caos de blocos à espera das próximas chuvas para correr encosta abaixo, são marcas do perigoso deserto que agora ocupa uma grande parte da cordilheira central", alerta Quintal.
O fogo, impelido por rajadas de vento da ordem dos 100 quilómetros por hora, subiu velozmente, ao início da tarde de ontem, as vertentes da Ribeira do Cidrão, vindo do fundo do Curral das Freiras. Ao chegar ao Pico do Areeiro começou a descer e queimou tudo o que encontrou pelo caminho. A plantação dos Associação dos Amigos do Parque Ecológico não escapou à voracidade das chamas e muito do trabalho realizado nos últimos dez anos foi destruído em instantes, lamenta Quintal.
O presidente do Serviço Regional de Protecção Civil, Luís Neri, declarou que a situação dos incêndios esteve “mais calma" neste sábado, mas alertou para o facto de haver ainda focos activos.
Os concelhos do Funchal, Câmara de Lobos, Santa Cruz, Ribeira Brava e de Santana, fustigados pelas chamas nos últimos três dias, apresentam ainda manchas de fogos florestais que estão, no entanto, numa combustão mais lenta e com menos fulgor. "Estão sob maior controlo e já não exigem meios que não sejam os da localidade", adiantou Luís Neri.
Alberto João Jardim diz que pirómanos devem ter "tratamento adequado"
O governo regional identificou alguns suspeitos pela deflagração de incêndios que estão a ocorrer nas serras da Madeira, garantiu o secretário regional do Ambiente, Manuel António Correia.
As informações foram enviadas à Polícia Judiciária, adiantou o governante esperando que “todos os indícios sejam investigados até ao fim” e que haja “celeridade nos processos”.
Manuel António garantiu que a Polícia Florestal, cuja primeira prioridade foi ajudar no combate ao fogo, recolheu indícios em vários locais e encaminhou toda a informação para a PJ. Em causa, recordou, está um crime punível com prisão, algo que não deve ser esquecido por quem teve responsabilidades nos incêndios.
Em declarações à RTP-Madeira, que está a cobrir “as férias do presidente”, Jardim disse não ter “dúvidas que os incêndios têm origem criminosa” com o objectivo de criar “na Madeira um clima de terrorismo florestal como no Continente”. O que é preciso, defende relativamente aos pirómanos, “é apanhar a canalha e dar-lhe um tratamento adequado”, pois “o Estado de direito instituído pela República não dá conta disto”.
Aos jornalistas Jardim pediu contenção nas reportagens dos incêndios, “matéria que quanto mais explorada pela comunicação social mais desperta a atenção dos pirómanos”.
O presidente do governo regional não considerou necessário interromper as férias, a passar na ilha do Porto Santo até 31 de Agosto – período durante o qual apenas tenciona deslocar-se ao Funchal para participar na festa do Monte, no dia 15, e para discursar no Dia da Cidade, a 21 – para acompanhar a situação que, no seu entender, não exige a intervenção de meios exteriores.
Fonte: Publico.pt
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