sexta-feira, 3 de maio de 2013

Parque Nacional da Gorongosa: “O homem sonha, a obra nasce”


    A restauração do Parque Nacional da Gorongosa é hoje um projecto emblemático para a conservação da natureza em África, depois de ter sido destruído durante a guerra civil em Moçambique.
O Parque Nacional da Gorongosa, no Centro de Moçambique, estende-se por uma área de cerca de 4000 quilómetros quadrados. Foi declarado Parque Nacional em 1960, em grande medida devido à sua reputação enquanto reserva de caça e destino turístico.
As fronteiras deste parque foram recentemente modificadas, por forma a integrarem o monte adjacente da Gorongosa. Um alargamento fundamental, não apenas pela riqueza e singularidade da biodiversidade aqui presente, mas também pelo serviço de regulação dos fluxos hidrológicos que a montanha presta em toda a extensão do parque. Ainda assim, a pressão humana tem conduzido à sua rápida desflorestação, em especial nos últimos 15 anos. Está em curso um programa de reflorestação que é um notável trabalho de cooperação entre cientistas e populações locais e vai contar com investigadores portugueses.
A restauração do Parque Nacional da Gorongosa é hoje um projecto emblemático para a conservação da natureza em África, depois de ter sido quase completamente destruído durante a guerra civil em Moçambique. Há alguns anos que acompanho com entusiasmo este esforço de recuperação. Recordo-me, aliás, de ter invocado a importância deste projecto, quando o Governo português preparava a Cimeira da Terra, realizada em 2002, na África do Sul. Quando se discutiam as propostas que Portugal levaria a este evento, defendi então que deveríamos apresentar uma proposta de colaboração nacional no projecto de recuperação do Parque Nacional da Gorongosa.
Mas o nosso desígnio marítimo prevaleceu então, como quase sempre em que há momentos de representação política internacional na área da conservação da natureza. Não quero questionar ou contestar essa opção nesse ou noutros contextos, mas julgo que teria sido um projecto de grande interesse para as universidades portuguesas e moçambicanas, estimulando o conhecimento na área da ecologia e da biodiversidade, e incentivando o estudo das colecções nacionais de história natural, tão relevantes para o conhecimento do património natural de África.
O notável trabalho de reabilitação da Gorongosa deve muito ao filantropo norte-americano Greg Carr. E, naturalmente, ao empenho do Governo de Moçambique, que em boa hora assumiu este projecto como estratégico para a conservação da natureza e para a economia moçambicana, através de uma parceria público-privada entre o Governo e o Projecto de Restauração da Gorongosa.
Este é um claro exemplo de como a utopia de um homem se pode tornar realidade. Dirão alguns que a sua disponibilidade financeira facilitou, mas importa reconhecer que foi sobretudo a visão, o empenho, a dedicação e a persistência deste americano, para quem o português já é uma segunda língua. Com o esforço de mobilização das entidades e autoridades moçambicanas, das populações residentes, dos antigos funcionários do parque, de muitos conservacionistas atentos a este parque de excepção no continente africano foi possível construir um projecto que servirá de exemplo em África e no resto do mundo.
No domínio da conservação da natureza, é evidente que há muito trabalho a fazer em Portugal, mas África continua a ser uma colaboração inadiável.

Texto de Helena Freitas publicado no Jornal Público

0 comentários:

Enviar um comentário