Guarda-par ques desmantela m acampament os de caçadores no
Parque Estadual de Ilhabela
A caça está liberada no Parque Estadual de Ilhabela.
Pelo menos é o que acreditam grupos de infratores que vêm atuando livremente na
região. Uma rede de ranchos de caça foi recentemente desbaratada por
guarda-parques em tocas situadas a mais de 1.000 metros de altitude, no coração
de Ilhabela. E há pouco mais de dois meses, na casa de um funcionário da
Prefeitura Municipal, a Polícia Militar apreendeu armas, apetrechos de caça e
um freezer recheado com carne de animais silvestres, segundo revelou o jornal Imprensa Livre.
O Parque Estadual de Ilhabela (PEIb) não recebe grande
atenção do governo estadual paulista. Uma bonita sede no centro histórico da
cidade e a recuperação da estrada que leva a Castelhanos podem sugerir o
contrário. Mas o Plano de Gestão e Manejo do PEIb, que daria força legal para a
direção do parque trabalhar na sua preservação, está engavetado há anos no
Conselho Estadual do Meio Ambiente. E a falta de uma base da Polícia Ambiental
em Ilhabela, que tem quase 90% de sua área demarcada como unidade de
conservação, deixa seu parque à mercê de grupos que promovem o "turismo de
caça" no município.
Isso é ainda mais
grave porque os guarda-parques não têm poder de polícia. Proibidos de
portar armas, pouco podem fazer para combater os caçadores. O descaso do governo também pode ser visto na
falta de estrutura para o trabalho desses funcionários. Uma visita
à sede operacional do parque, longe do badalado centro histórico de Ilhabela,
comprova que, dos 4 veículos que possui, apenas um funciona. Apresentado no
site da Secretaria do Meio Ambiente do Estado como um parque-arquipélago com 12 ilhas, a unidade
de conservacão administrada pela Fundação Florestal, com 27 mil hectares de
área, não possui sequer um bote para seu patrulhamento marítimo.
Ranchos de caça na floresta
A rede de ranchos de caça foi desbaratada em tocas
próximas à Trilha do Estevão, que liga a Estrada de Castelhanos à comunidade do
Bonete. Neles foram encontrados diversos cartuchos de munição, colchões,
roupas, panelas e sacos de dormir. As revelações foram feitas durante Reunião
da Câmara Técnica de Educação Ambiental do Parque Estadual de Ilhabela, que é
aberta ao público .
"Cansamos de flagrar armadilhas
aqui. Algumas ficam a poucos metros das trilhas. O comandante da Polícia
Ambiental diz que não há caça em Ilhabela, mas todos sabemos que existe",
afirmou um dos guarda-parques -que ao perceber a presença da reportagem do
Brasil Post na plateia, pediu para não ser identificado. A operação foi baseada em denúncias de moradores e organizada de
maneira voluntária, pelos próprios guada-parques, no final de julho.
"A sofisticação e a quantidade de equipamentos
encontrados indica que os caçadores são pessoas de posses, ou que são
profissionais remunerados", afirmou outro guarda-parque. Questionada pela
reportagem do Brasil Post, a assessoria de imprensa da Fundação Florestal
afirmou que "foi elaborado um Auto de Constatação de Infração Ambiental,
que foi encaminhado à Polícia Ambiental". A ocorrência foi registrada no
Batalhão da Polícia Ambiental de São Sebastião _que precisa pegar a balsa para
chegar à Ilha e apurar qualquer denúncia de crime ambiental no município
vizinho.
Perguntada sobre a demora na aprovação do Plano de
Gestão e Manejo do parque, a Fundação Florestal responde politicamente:
As Unidades de Conservação que contam com Plano de
Manejo têm maior possibilidade de captação de recursos e estabelecimento de
parcerias, o que poderia vir a fortalecer o Programa de Proteção do PEIb.
O mesmo acontece quando questionamos o fato de que, no
estacionamento da administração do PEIb, existem três veículos quebrados, e
apenas um funcionando:
A Unidade possui quatro veículos que passam por
manutenções de rotina, e pode ocorrer de mais de um veículo demandar manutenção
ao mesmo tempo. Para este ano, há previsão de mais um veículo para o Parque
Estadual Ilha Anchieta. (sic)
Para cuidar de uma área de mais de
27 mil hectares, na Ilha de São Sebastião e em várias ilhas menores, o Parque
Estadual de Ilhabela conta com apenas 6 funcionários administrativos e 5
guarda-parques. Como não podem andar armados, o que é prerrogativa da Polícia
Ambiental, só Deus sabe o que aconteceria caso entrassem em confronto direto
com os caçadores.
A gravidade da situação levou o Instituto Ilhabela Sustentável, uma ONG local,
a criar um abaixo-assinado cobrando do
governador Geraldo Alckmin a implantação de um pelotão de
Polícia Militar Ambiental no Município. Segundo documento elaborado por órgãos
do próprio governo paulista, Ilhabela é uma das regiões com maior número de
autos de infração ambiental no Estado.
Fauna ameaçada na geladeira
Como revelou reportagem do jornal Imprensa Livre,
armas, cartuchos, apetrechos de caça e seis quilos de carne de caça foram
encontrados na residência do secretário de Serviços Municipais Urbanos de
Ilhabela, Valdir Veríssimo. O boletim de ocorrência número 1842/2014 registrou
o porte ilegal de arma de fogo e a morte de espécimes da fauna silvestre.
Laudo da Fundação Animália, elaborado a pedido da
polícia, comprovou tratarem-se de animais silvestres, alguns ameaçados de
extinção. O exame das carcaças de exemplares de Jacu e Cotia, revela ainda como
os animais foram mortos:
Notar a proximidade dos orifícios de penetração,
mostrando que a roseta de projéteis não havia se espalhado significativamente,
reforçando a hipótese de curta distância de tiro; esta situação é praticamente
impossível em mata, devido ao comportamento arisco do animal, que não se deixa
aproximar _o que implica a utilização de ceva, em que o animal é atraído com
alimentos a curta distância de plataforma onde o caçador se esconde; a
trajetória inclinada do tiro, de cima para baixo, também reforça a hipótese.
Questionada sobre mais esse fato, a Fundação Florestal
respondeu que "o Parque Estadual de Ilhabela tomou conhecimento do fato e
está prestando todo o apoio necessário aos órgãos envolvidos".
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