O pequeno rato-de-cabrera, um exemplar exclusivo da Península Ibérica, tem cada vez menos espaço para subsistir nos campos de Portugal e Espanha, encontrando-se hoje ameaçado de extinção. A fragmentação dos habitats vem apertando o "torniquete" a uma população com exigências ecológicas muito restritas, que se dá mal com a chuva e com o frio, mas também com o tempo quente e seco. A partir de 1 de Maio, os biólogos vão para o terreno (ver caixa) numa operação de salvamento que poderá demorar anos.
A falta de capacidade para se adaptar a novos ambientes está a condenar o rato-de--cabrera ao desaparecimento. Há poucos estudos sobre a comunidade, mas os dados disponíveis são suficientes para afirmar que se não forem criadas condições adequadas para a sua ocorrência dificilmente o rato "luso-espanhol" irá passar à história.
"Só ocorre numa zona central, em zonas mais altas ou junto à costa, onde tem condições macroecológicas para o fazer. Ainda por cima, só ocorre em manchas de habitat muito pequenas, frequentemente inferiores a meio hectare", explica António Mira, docente do Departamento de Biologia da Universidade de Évora. E mesmo nessas pequenas manchas, o rato revela-se muito selectivo, escolhendo zonas de elevada humidade no solo e com ervas densas e altas.
Os montados de sobreiro e azinho, sobretudo quando existem clareiras, são áreas privilegiadas, desde que ofereçam a cobertura densa de extracto herbáceo e que não sejam zonas de pastoreio, já que a presença de gado afasta a espécie. O problema é que nos meses de Verão o pastoreio acaba por se concentrar nestas zonas, justamente por serem mais húmidas e as ervas permanecerem verdes durante mais tempo. Logo, mais apetecíveis.
"Estamos na presença de um exemplo de fragmentação de habitat, mas também o aumento dos perímetros de rega é prejudicial", alerta António Mira, preocupado com as "barreiras" que estão criadas às movimentações da espécie quando procura indivíduos de outras colónias para acasalar. "Isto é decisivo", diz, alertando que o rato-de-cabrera ocorre nas proximidades dos cursos de água ou em zonas onde os aquíferos estão mais próximos da superfície, permitindo mais humidade no solo. Seria este o terreno ideal para procurar parceiros, mas o facto de encontrar pelo caminho áreas inóspitas levam-no a retroceder nos intentos.
"Como isto são zonas de pequenas parcelas de terreno que estão muito separadas entre si, significa que cada população está muito isolada. Ou seja, eles não conseguem mover-se entre as várias manchas e vamos ter populações, cada vez, mais pequenas", lamenta o professor.
E quanto mais pequena for uma população mais curto será o caminho para a extinção, sobretudo numa espécie que se debate com colónias bastante reduzidas. Regra geral, uma colónia é formada apenas pelo casal e pela descendência de primeira e segunda geração. Os progenitores, que apresentam um padrão monogâmico, revelam dedicação parental durante as primeiras quatro semanas de vida das crias. Mas, depois, os "juvenis" tendem a procurar a sua própria casa.
Emissores de rádio vão mapear colónias
Um minucioso estudo sobre o rato-de-cabrera e o rato- -de-água vai arrancar a 1 de Maio, com o projecto Persiste. Por serem duas espécies com requisitos ecológicos semelhantes, os biólogos tencionam avaliar possíveis relações de competição e também apurar a influência da intensidade agrícola, alteração de zonas florestais ou as consequências do pastoreio. "O objectivo é saber qual a dispersão máxima das colónias. Quando é que se dispersam e quantos se dispersam", revela o biólogo. O estudo vai ser realizado com recurso à captura de animais e colocação de coleiras com emissores de rádio, o que permitirá traçar um mapa dos seus movimentos.
Fonte: Diário de Notícias
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