domingo, 9 de maio de 2010

Gambusia holbrooki: O inimigo dos mosquitos


Foi introduzida na Europa no início do séc. XX para combater os mosquitos portadores da malária. O sucessso da gambúsia foi tal que rapidamente se transformou numa praga, quase tão irritante como os insectos que vinha exterminar.

Há pragas e pragas. Uma das famosas pragas do Egipto foi a dos mosquitos. E, se há mosquito que é mesmo uma praga, é o que transmite a malária, que ainda hoje é o flagelo de grande parte da população mundial. No início do século XX descobriu-se que os maléficos mosquitos eram controlados por um dos seus inimigos naturais: uns minúsculos peixinhos que adoravam comer as suas larvas, o chamado peixe-mosquito. A espécie gambúsia.

O peixe-mosquito passou a ser importado da Carolina do Norte para Itália, em 1921. Contudo, durante a viagem detectou-se uma grande mortalidade de peixes e daí uma escala em Espanha para aclimatação. O que foi feito com sucesso. A aclimatação aconteceu na região de Cáceres e a gambúsia rapidamente se multiplicou, alastrou à bacia do Tejo e daí a todos os rios, lagos, pateiras, pântanos, pauis, lagoas e charcos portugueses. Foi também criada nas lagoas de Mira, tendo sido introduzida em áreas de arrozal e outras onde as larvas do mosquito se desenvolvem.

Espécie invasora, foi transportada para um ecossistema que não era o seu de origem e rapidamente explodiu o seu efectivo populacional. "A gambúsia adapta-se muito bem a ambientes extremamente hostis e condições agrestes como temperaturas elevadas e água pouco oxigenada", explica Pedro Raposo de Almeida, professor na Universidade de Évora e investigador no Centro de Oceanografia da Faculdade de Ciências de Lisboa
O peixe-mosquito é quase um fantasma, de tão pequeno e imperceptível. Para os mais distraídos pode ser confundido com a fêmea do guppy. Mas, apesar do seu ridículo tamanho, é de uma voracidade espantosa, não se limitando à gastronomia mosquiteira.

"Como é muito voraz, tudo o que na prática for possível de ser comido, eles comem. São canibais, capazes de predar a própria descendência", conta Pedro Almeida. A sua fome permanente coloca em desequilíbrio os ecossitemas onde se introduz, provocando mesmo o desaparecimento de outros predadores naturais de mosquito.

A gambúsia tem uma estratégia de reprodução elaborada: atinge a maturidade sexual ao fim de quatro a seis semanas, podendo reproduzir-se quatro vezes num ano. Os ovos são fecundados no ventre materno e as suas crias nascem não completamente desenvolvidas, mas já com alguma autonomia. "Já conseguem alimentar-se, nadar e, por isso, fugir de potenciais predadores. Um peixinho acabado de nascer já é capaz de comer larvas", refere Pedro Raposo de Almeida. A gambúsia tem assim uma enorme possibilidade de sobrevivência.

Não tendo interesse económico, não é capturada pelo homem. E o controlo das populações não é viável porque a sua pequenez e o seu ritmo reprodutivo não permitem a utilização de meios mecânicos para limpar os meios húmidos que habitam. "São muito difíceis de controlar. O melhor é aprendermos a viver com eles", afirma o investigador do Instituto de Oceanografia.

Vistos de fora parecem uns amores, mas são extremamente agressivos. O nome peixe-mosquito parece poético, mas advém não só da sua alimentação, como também do facto de ser quase tão irritante como estes insectos.

Fonte: Diário de Notícias

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