“O encerramento da reserva natural é importante para manter a segurança do público, minimizar a perturbação das colónias de aves marinhas que lá nidificam e permitir que as equipas responsáveis pelas operações de limpeza (...) possam trabalhar com segurança e eficácia”, segundo um comunicado do organismo americano responsável pela preservação da fauna (US Fish and Wildlife Service).
Ontem, pela primeira vez, as autoridades norte-americanas anunciaram oficialmente a chegada da maré negra, causada pela explosão da plataforma petrolífera Deepwater Horizon, a 22 de Abril. A primeira região afectada pela poluição é o arquipélago de ilhas-barreira Chandeleur, ao largo do Luisiana.
A reserva natural de Breton, que alberga um número incalculável de aves, é uma das mais antigas dos Estados Unidos. Criada em 1904, estende-se ao longo de mais de 2800 hectares.
Maré negra ameaça natureza já fragilizada
A maré negra do Golfo do México afecta, sobretudo, regiões muito sensíveis, já atingidas por furacões, poluição, sobre-exploração pesqueira e alterações climáticas. Estas são ameaças que limitam a capacidade da natureza de ultrapassar um novo problema.
“O tempo o dirá, mas o que sabemos é que os ecossistemas em boa saúde resistem melhor às ameaças”, comentou Christopher Mann, um dos responsáveis do programa marinho do Pew Environment Group, com sede em Washington.
“Com a subida do nível dos oceanos e a erosão, os pauis estão a desaparecer aos poucos. Estima-se que o delta do Mississípi esteja a perder, diariamente, uma superfície o equivalente a um campo de futebol”, disse Mann.
O especialista lembrou que foram abertos “canais para facilitar as operações da indústria petrolífera que não só promovem a erosão como também facilitam hoje a entrada do petróleo no interior dos pauis”.
Depois da passagem do furacão Katrina, em 2005, a vegetação ainda não recuperou o suficiente para conseguir desempenhar o seu papel de barreira natural de protecção destas zonas húmidas.
Além disso, o Mississipi, que atravessa praticamente os Estados Unidos de Norte a Sul, drena até ao delta a poluição das terras por onde passa, submetidas a uma agricultura intensiva. Os resíduos de pesticidas acabam no delta, ao ponto de criarem “zonas mortas”, segundo Mann.
Perigo invisível no fundo do mar
Ainda que vasto, o Golfo do México sofre com os efeitos da sobre-exploração pesqueira. Na Primavera, este é um local importante de concentração de baleias e atuns do Atlântico que lá se reproduzem.
“As pessoas preocupam-se com as costas, mas os impactos também são graves no oceano”, salienta Lisa Speer, directora do Programa Oceanos no National Resources Defense Council.
“Muitas criaturas vivem no fundo do mar, longe das câmaras. Ovos e larvas são particularmente vulneráveis: 20 anos depois da maré negra do Exxon Valdez (no Alasca), os salmões ainda não recuperaram”.
A opção da BP em utilizar dispersantes na maré negra é criticada por muitos. “Estamos a acrescentar uma poluição a outra. Só que o petróleo não desaparece, afunda-se e fica acumulado nos sedimentos durante décadas”, alerta Sue Lieberman, directora-adjunta do Pew.
“A vida marinha vai tornar-se numa sanduíche tóxica”, comentou Mann. “Um fundo do mar desabitado e águas de superfícies mergulhadas em petróleo”.
Explosão na plataforma petrolífera terá sido causada por bolha de metano
A explosão na plataforma petrolífera Deepwater Horizon, a 20 de Abril, foi causada por uma bolha de metano que se escapou do poço e disparou para cima, através da coluna de perfuração, revela um inquérito interno da BP às causas do acidente no Golfo do México.
Ao longo de uma subida de 1500 metros, o gás foi ganhando força e destruiu vários dispositivos de segurança, antes de explodir, de acordo com os relatos dos funcionários daquela plataforma que sobreviveram à explosão. Estes testemunhos são, até agora, o relato mais detalhado do que terá acontecido a 20 de Abril. Apesar disso, a investigação não está concluída e ainda não se pode avançar com a causa oficial do acidente. Morreram onze pessoas e cinco mil barris de petróleo são libertados diariamente para as águas do Golfo do México.
Parte das entrevistas aos funcionários da plataforma foram descritas à agência Associated Press (AP) por Robert Bea, da Universidade da Califórnia e da Academia Nacional de Engenharia dos Estados Unidos e consultor da BP na análise de riscos nos anos 90. Robert Bea recebeu a informação de amigos que procuravam a sua opinião, explicou o site da televisão CBS.
Na altura, o poço estava a ser convertido de um poço de exploração para um poço de produção. Bea acredita que os trabalhadores estavam a testar uma forma de selar o poço com cimento, na sua base. Depois reduziram a pressão na coluna de perfuração e tentaram fazer uma segunda selagem. Mas uma reacção química causada pelo cimento criou calor e uma bolha de gás que se foi intensificando. “A bolha tornou-se como um canhão a disparar gás”, disse Bea à AP, citado pela CBS. Na plataforma, a primeira coisa que os funcionários viram foi água do mar disparada da coluna de perfuração, atingindo 80 metros de altitude. Depois, o gás chegou à superfície, seguido do petróleo.
A BP prefere não comentar estas informações.
Cúpula de confinamento já está no fundo do mar
Já está no fundo do mar, a 1500 metros de profundidade a cúpula com 98 toneladas e 12 metros de altura que deverá colmatar uma das duas fugas na origem da maré negra. A operação, na mais completa escuridão e com uma pressão elevada, teve a ajuda de sensores, câmaras vídeo e robôs submarinos.
Agora, a BP tem que esperar 12 horas para que a estrutura estabilize. Depois vai instalar uma coluna que ligará o poço a um navio à superfície, a fim de canalizar até 85 por cento do petróleo que está a ser libertado.
Ontem foram realizados quatro incêndios controlados da mancha negra. Mas hoje, e depois de vários dias de acalmia, os ventos intensificaram-se, impedindo a utilização desta técnica. Ainda assim, as operações no mar não foram suspensas. Cerca de 200 barcos colocaram 240 mil metros de barreiras flutuantes e usaram um milhão de litros de químicos dispersantes para fragmentar a poluição.
Fonte: Publico.pt
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