quinta-feira, 3 de junho de 2010

Maré negra espalha-se a mais estados norte-americanos

A maré negra no Golfo do México, que já dura desde 22 de Abril, chegou há duas semanas aos pauis da Luisiana. Esta semana está a espalhar-se para norte, tendo chegado ontem ao Alabama e Mississípi.

Ontem, manchas acastanhadas deram à costa nas ilhas barreiras ao largo do Alabama e do Mississípi, informaram as autoridades locais. Desde o início da catástrofe já foram libertados para o Golfo do México entre 71 e 113 milhões de litros de crude.

Hoje, as autoridades da Florida confirmaram ter avistado uma mancha negra a 14 quilómetros da zona costeira deste estado, tornando-o no quarto a ser atingido. O crude deverá chegar ainda hoje a praias como a famosa Pensacola Beach. Ao longo da costa, equipas de funcionários colocam dezenas de metros de barreiras e preparam a chegada da maré negra.

Mas a ameaça parece não estar só à superfície. Dois estudos das universidades da Florida e do estado da Luisiana revelaram extensos lençóis de crude debaixo de água, aparentemente causados pelos dispersantes químicos utilizados pela BP. Estes produtos ajudaram a afundar parte do crude à superfície. “Estes lençóis vão tornar muito difícil para os peixes sobreviverem nas costas do Golfo a norte”, comentou à AFP Prosanta Chakrabarty, investigador na universidade estatal da Luisiana. “Poderemos muito bem perder dezenas de espécies de peixes já de si vulneráveis”, alertou. O Halieutichthys aculeatus poderá ser uma das espécies mais ameaçadas.

Já Erik Cordes, biólogo marinho da Universidade Temple, alerta para os perigos nos recifes de coral. “O pior cenário é o crude tapar os corais e funcionar como se estivesse a sufocá-los”, comentou ao “New York Times”. Segundo Billy Causey, da NOAA, agência de meteorologia norte-americana, estão registados pelo menos cem recifes de coral entre as costas do Texas e da Florida.

“Os efeitos a longo prazo na vida marinha ainda não são conhecidos”, comentou em Maio Lisa Jackson, responsável pela Agência de Protecção Ambiental norte-americana (EPA), referindo-se ao uso dos dispersantes químicos.

Administração Obama inicia investigação criminal à maré negra

A Administração Obama cumpriu o que ameaçava há vários dias. De visita ao Luisiana, o "attorney general" Eric Holder anunciou a abertura de uma investigação, cível e criminal, à explosão na plataforma petrolífera da BP, na origem da maré negra no golfo do México.

O chefe doDepartamento de Justiça disse que várias agências federais, incluindo o FBI, vão colaborar nas investigações e “se forem encontradas provas de comportamento ilegal, a resposta será dura”.

Holder adiantou ainda que existe “base suficiente” para lançar o inquérito e que as empresas envolvidas no derrame – além da BP também a Halliburton e Transocean laboravam na plataforma – receberam já ordem para guardarem todos os registos relacionados com o acidente.

A abertura do inquérito representa um afastamento definitivo da Casa Branca da resposta que está a ser dada pela petrolífera ao pior desastre ambiental de sempre nos Estados Unidos. Pouco antes, o Presidente Barack Obama tinha dado um sinal de que a ruptura estava iminente. “Se a violação das nossas leis conduziu a mortes e destruições, assumo o compromisso solene de levar os responsáveis perante a justiça em nome das vítimas desta catástrofe”, avisou o Presidente.

Antes disso, as autoridades federais alertaram para o perigo do uso intensivo pela BP de dispersantes químicos nas águas e o risco de esta ter injectado grandes quantidades de lamas pesadas para o poço.

A gota de água que fez transbordar a paciência de Obama terá sido o fracasso da técnica "top kill" para estancar os cerca de 19 mil barris diários de petróleo libertados a 1500 metros de profundidade. A notícia de que o furo continuará a libertar petróleo até Agosto não ajuda o esforço da Administração para convencer o país de que é ela, e não a BP, quem tem nas mãos o controlo da situação.

“Obama é o responsável por não fazer com que a BP nos olhe nos olhos e se comprometa a resolver o problema”, disse Dean Blanchard, proprietário de um negócio de marisco em Nova Orleães, citado pela Reuters.

Nova táctica da BP
A BP anunciou que está a experimentar uma nova táctica para estancar parte da fuga, ainda que sem grandes garantias de sucesso. Segundo a CNN, robôs submarinos começaram a serrar a parte do tubo de exploração que está danificada. Depois, essa secção será removida para ser colocada uma cúpula construída à medida. Contrariamente às anteriores tentativas, o objectivo já não é estancar a fuga mas sim recuperar o crude para um navio à superfície.

Segundo as estimativas da Administração Obama, entre 71 milhões e 113 milhões de litros de crude terão sido libertados para o mar desde a explosão, a 20 de Abril.

Uma solução para estancar definitivamente a fuga só está prevista para Agosto, quando ficarem concluídos os dois poços de apoio que começaram a ser perfurados no início de Maio.

“Estamos a morrer lentamente. De cada vez que aquele petróleo leva mais um pedaço dos pauis, é uma parte da Luisiana que desaparece para sempre”, lamentou Billy Nungesser, presidente da região de Plaquemines, na CNN. Um grupo que se autoproclama “Seize BP” afirmou ontem que vai organizar manifestações em mais de 50 cidades dos Estados Unidos, de quinta-feira a sábado, para protestar contra a maré negra.

Fonte: Publico.pt

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