Desde 1998, os vigilantes da natureza do Parque Natural da Madeira dizem que já foram registados, na zona da Ponta de São Lourenço, cerca de 700 avistamentos
João Paulo Mendes é vigilante da natureza. Uma profissão que lhe dá uma grande satisfação pessoal. E isso vê-se na forma como recebe os muitos turistas e madeirenses que visitam, diariamente, a zona da Ponta de São Lourenço, que está integrada no Parque Natural da Madeira. E não são poucos, de facto, aqueles que fazem este passeio a pé, cuja vereda é conhecida por “Casa do Sardinha”.
O sinuoso caminho, que vai desembocar na “Casa do Sardinha”, tem início no final da estrada mais a este da Madeira, num ponto que é conhecido, pelo menos entre os vigilantes da natureza, como o “redondo”. Este é também o ponto de partida, todos os dias, de João Paulo Mendes. A partir dali faz, sempre que está de serviço, cerca de três quilómetros. Por isso, diz com um certo sentido de humor, que esta é «uma forma de manter a elegância».
Normalmente, conforme revelou João Paulo Mendes, o trajecto até à “Casa do Sardinha” é feito a pé a partir do “redondo”. No entanto, em ocasiões especiais, são usados os botes, os quais são também utilizados para transporte de materiais quando são necessários.
Chegado à “Casa do Sardinha”, a pé, ou por via marítima, a partir da Marina da Quinta do Lorde, no Caniçal, o trabalho começa bem cedo. Há sempre alguma coisa por fazer, isto para além de abrir as instalações do Parque Natural da Madeira, onde tem uma exposição sobre a fauna e flora daquela zona, mas também onde são vendidos alguns produtos promocionais ligados ao parque e às reservas naturais da Madeira.
Da sua experiência no desempenho das suas funções, João Paulo Mendes destaca a observação, cada vez mais frequente, de lobos marinhos naquela zona, em especial nas vertentes viradas a norte. Em seu entender, isso revela que eles, aos poucos, estão a regressar à Madeira.
Cerca de 700 avistamentos
Conforme revelou, desde 1998, foram já registados cerca de 700 avistamentos de lobos marinhos, alguns deles conseguiram mesmo identificar como sendo membros da colónia existente nas Desertas.
Quanto às razões que levam a que o lobo marinho a voltar à Madeira, João Paulo Mendes disse não ter conhecimento seguro sobre os motivos que levam aqueles mamíferos a virem nadar junto à costa da Madeira. Mas, diz com toda a convicção, «uma coisa é certa, esta era antes a casa deles, e o nome de Câmara de Lobos é prova disso mesmo».
Ao longo da história, com o desenvolvimento da actividade humana na costa sul, os lobos marinhos, de acordo com João Paulo Mendes, começaram a procurar refúgio na zona das ilhas Desertas. Entretanto, com os cuidados e as medidas que foram tomadas para a preservação da espécie, a colónia naquelas ilhas começou a crescer. E, por esse facto, se calhar, também começaram, agora, a expandir a sua colónia até à Madeira.
Até porque, na sua opinião, a Ponta de São Lourenço tem todas as condições, neste momento, para os receber, pois «tem grutas, tem praias, principalmente na costa norte, tem praias mais protegidas, onde eles podem e usam para descansar».
Outro dado recordado por João Paulo Mendes — e que provam também esse regresso à extremidade este da Madeira — prende-se com as visitas que alguns lobos marinhos chegaram a fazer aos tanques de aquicultura, algumas delas foram mesmo notícia na imprensa regional.
Sensibilizar com informação
De uma forma geral, segundo João Paulo Mendes, a maior parte das pessoas que visita a área da Ponta de São Lourenço vem de fora. Mas, conforme referiu, passam também por ali muitos madeirenses, em especial durante o fim-de-semana, ou durante o período das férias grandes.
Conforme referiu, há também muitos estudantes que realizam passeios até àquela área, como foi o caso do dia em que JORNAL da MADEIRA se deslocou até à “Casa do Sardinha”, onde encontrámos um grupo de alunos da Escola da Torre, em Câmara de Lobos.
Os visitantes querem saber, normalmente, algumas curiosidades sobre aquela área. Uma das coisas que desperta muito interesse, sobretudo entre as camadas mais jovens, é a tarântula. E, normalmente, a pergunta é feita com alguma admiração: “mas... há tarântulas aqui?...”. A resposta, normalmente, procura tranquilizar os visitantes, com um: “sim... mas elas só saem debaixo das pedras à noite e são mais pequenas que aquelas que muitas vezes aparecem na televisão”.
Mas, para além das tarântulas e de uma série de outros animais, a zona da “Casa do Sardinha” possui, actualmente, 154 plantas distintas, a maior parte das quais na Ponta de São Lourenço (138) e as restante no ilhéu no Desembarcadouro. De realçar, entre estas, a “perpétua de São Lourenço”, que só existe naquela zona.
Dois vigilantes na “Casa do Sardinha”
De acordo com o responsável pelos vigilantes da natureza, Marco Camacho, neste momento, o serviço na zona da Ponta de São Lourenço é assegurado por equipas de dois profissionais, havendo um terceiro elemento que rende e substitui durante os períodos de férias e folgas.
Conforme referiu, a missão dos vigilantes é a de preservar e assegurar que é preservada a natureza, cabendo-lhes, para além do papel de “vigiar”, uma outra função, que é a de informar os muitos turistas que por ali passam e pedem informações, quer sobre a fauna, quer sobre a fauna local.
De uma forma geral, tal como nos referiu Marco Camacho, os vigilantes da natureza estão preparados, do ponto de vista da sua formação, para dar todas as informações relacionadas com o Parque Natural da Madeira, que não se circunscreve, neste caso, apenas à zona da Ponta de São Lourenço, mas a outras áreas protegidas, como as ilhas Desertas, ou as Selvagens, mas também sobre a laurissilva.
Quanto às perguntas mais frequentes, Marco Camacho diz que os visitantes procuram saber, muitas vezes, pequenas curiosidades que a informação existente ao longo possa ter suscitado.
Em seu entender, basta que o visitante esteja um pouco atento à informação que é facultada ao longo de todo o trajecto para, ao chegar à “Casa do Sardinha”, já saber um pouco mais sobre aquela área, nomeadamente, os seres vivos que ali existem, mas também algumas curiosidades ao nível geológico, entre outras informações.
Ponta de São Lourenço regista mais de uma centena por dia
Cristina Medeiros, responsável pela área da Ponta de São Lourenço, diz que, por dia, em média, passam mais de uma centena de pessoas na vereda da “Casa do Sardinha”.
Os dias com maior frequência são, sobretudo, ao fim-de-semana, um dado que poderá ser explicado pelo maior número de madeirenses que aproveita os fins-de-semana para fazerem uma caminhada até aquela extremidade da Madeira.
Segundo referiu, a maior parte dos visitantes que fazem aquele percurso não é da Madeira, são turistas que procuram uma vereda relativamente simples e de curta duração, dado que aquele trajecto poderá ser feito em menos de uma hora a pé.
Um outro dado assinalado por Cristina Medeiros e que comprova, de alguma maneira, que a maior parte dos visitantes é “forasteiro” é o facto de que os dias com menor número de caminhantes na vereda da “Casa do Sardinha” ser às terças e quintas-feiras, precisamente, os dois dias em que é também sabido que há maior número chegadas e partidas à Região no Aeroporto Internacional da Madeira.
De uma forma geral, e para quem conhece aquela vereda, desde que esteja bom tempo, facilmente nos cruzamos com turistas a fazer aquela vereda. A maior parte casais, alguns com filhos, mas em grupos mais pequenos que aqueles que encontramos noutros percursos pedonais, como o Caldeirão Verde, ou o Pico Ruivo.
Cristina Medeiros, responsável pela área da Ponta de São Lourenço, afirma que a maior parte dos visitantes que fazem a vereda da “Casa do Sardinha”, até ao Centro de Recepção da Ponta de São Lourenço, não é da Madeira, são turistas que procuram uma vereda relativamente simples e de curta duração, dado que aquele trajecto poderá ser feito em menos de uma hora a pé.
Fonte: Jornal da Madeira online
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