Chega ao mundo com estatuto de parasita. As larvas permanecem fixas às guelras do salmão e da truta. Depois de várias metamorfoses acaba por se soltar do hospedeiro. Já é um mexilhão de rio do Norte na verdadeira acessão da palavra. Porém, a sua sobrevivência vai depender muito do local onde caia. Se for em zonas poluídas terá poucas possibilidades de sobreviver, mas se lhe tocar em sorte águas de boa qualidade poderá chegar aos 140 anos.
O mexilhão de água doce que recentemente travou o avanço de uma barragem em Portugal chegou a ser um caso perdido no nosso país em 1986, quando foi dado como extinto. Daí que o seu ressurgimento nos últimos anos ao longo dos caudais dos rios Cávado, Bessa, Rabaçal, Mente, Tuela, Neiva e Paiva tenha constituído uma surpresa para biólogos e ambientalistas, que passaram a considerar a sua preservação como uma prioridade.
É tão prioritário que o Ministério do Ambiente 'chumbou' a construção da barragem de Padroselos, tendo na mão dados concretos que apontam para o risco de desaparecimento da espécie que começou há pouco tempo a nidificar no rio Bessa. É que este mexilhão nunca foi encontrado em regimes lênticos (sistemas de água parados), sendo que uma das explicações passa pela alteração de habitats que as barragens e açudes provocam, afastando os salmonídeos, já que impedem a sua normal circulação nos rios. E sem hospedeiro para as larvas a espécie não tem futuro.
É por isso que os vários estudos realizados nos últimos anos resultaram em restrições altamente rigorosas em torno da edificação de albufeiras nos cursos de água onde o mexilhão dá sinais de vida. Em casos em que a construção de barragens seja imprescindível, o projecto deverá sempre contemplar a "criação de passagens" para salmões e trutas, para evitar o isolamento populacional dada a dependência da espécie em relação ao hospedeiro.
Após várias monitorizações é possível afirmar hoje que já voltaram a existir em Portugal as chamadas "populações saudáveis". É uma designação para as comunidades de mexilhão que exibem 30% de juvenis - exemplares com menos de 20 anos - sendo que a sua preservação serve para atestar a boa qualidade da água.
Aliás, sendo um bivalve o mexilhão alimenta-se filtrando a água por um sistema de cílios, ingerindo detritos e plâncton. Acabam, eles próprios, por atingirem densidades significativas que lhes permitem ser determinantes na qualidade da água devido ao volume que conseguem filtrar.
Não é, por isso, de estranhar que todo o cuidado seja pouco à hora de evitar a ameaça das descargas de efluentes provenientes da indústria ou dos pesticidas utilizados na agricultura. É que estes bivalves são incapazes de fugir à poluição e não faltam exemplos de casos em que populações inteiras foram dizimadas pela poluição.
Fonte: Diário de Notícias
Said
Será que o Ministério do Ambiente e Ordenamento do Território tem força suficiente para travar a construção de uma barragem para salvaguardar uma espécie ou será que a IBERDROLA não está interessada em avançar com este investimento?