domingo, 18 de julho de 2010

Português ajuda a calcular carbono que plantas absorvem


Primeira estimativa baseada em medição de fluxo de carbono entre a atmosfera e toda a vegetação da Terra mostra que ela absorve por ano 123 mil milhões de toneladas de carbono. O artigo foi publicado na revista 'Science'

A Terra também respira. Fá-lo através dos seus ecossistemas, libertando dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera, como numa imensa expiração. Mas a vegetação que cobre os continentes também "inspira" - absorve CO2, o que acontece durante a fotossíntese. E são estes dois processos que dominam as principais trocas de dióxido de carbono entre os ecossistemas e a atmosfera. Dois trabalhos, publicados na semana passada na revista Science, baseados em medições sistemáticas sobre estes processos, chegaram a novos resultados, que poderão agora ajudar a afinar os modelos climáticos.

Num dos artigos, a equipa internacional coordenada pelo investigador Christian Beer, do Instituto Max Planck, na Alemanha, quantifica com um rigor sem precedentes o carbono que a vegetação terrestre absorve anualmente da atmosfera e identifica o contributo de cada região para esse bolo (ver gráfico).

A outra descoberta tem a ver com o papel da temperatura no processo de respiração dos ecossistemas, quando eles libertam dióxido de carbono. Afinal a sensibilidade desta respiração à temperatura parece não variar tanto como até agora se pensava. Este trabalho foi liderado por outro investi- gador do instituto, na Alemanha, Miguel Mahecha. O português Nuno Carvalhais, que integra como bolseiro a equipa do Instituto Max Planck, que fez estas pesquisas, e que é também investigador no CENSE (Center for Environmental and Sustainability Research), da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, é um dos autores de ambos os artigos.

O número é 123 mil milhões de toneladas. É esta a quantidade de carbono que a vegetação que cobre a Terra absorve anualmente da atmosfera. Se quisermos falar em dióxido de carbono - os cientistas também fizeram essas contas -, o valor sobe para 450 mil milhões de toneladas.

"Embora já houvesse números hipotéticos a este respeito, esta foi a primeira vez que se apresentou uma estimativa empírica sólida, baseada em medições globais a partir de uma rede de torres de medições dos fluxos de carbono por parte dos ecossistemas", explicou ao DN Nuno Carvalhais.

As medições foram feitas em diferentes tipos de ecossistemas: tropicais, mediterrânicos, zonas temperadas e florestas boreais, para se poder avaliar a contribuição de cada um deles para o valor global. E isso, combinado com informação de satélites e com dados de temperatura e precipitação, permitiu à equipa "elaborar mapas onde se identificam as zonas de maior e menor absorção de carbono", adianta o investigador português, que participou em todo esse trabalho.

Os resultados mostram que as zonas tropicais são rainhas a absorver carbono do ar, engolindo uma fatia de 34 por cento do total anual, logo seguidas das zonas de savana (26 por cento) que, em área, são o dobro das regiões tropicais.

"Uma das aplicações destes resultados é a sua comparação com modelos globais de vegetação que podem ser usados conjuntamente com modelos climáticos", adianta Nuno Carvalhais, sublinhado que "a utilização des- tes métodos pode ajudar a identificar pontos críticos nas componentes terrestres dos novos mode- los de clima". E isso poderá ser um contributo importante para tornar os modelos climáticos mais adequados à realidade e, portan- to, mais rigorosos.

Nuno Carvalhais é co-autor de dois artigos publicados na 'Science'

Fonte: Diário de Notícias

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