terça-feira, 10 de agosto de 2010

Investigador portuguès mede, pesa e vê sexo dos morcegos


A noite estava de feição: nem vento, nem luar. Paulo Barros estava com as expectativas altas. “Mal a noite comece a cair, vão começar a aparecer. É só esperar”, diz, enquanto fuma um cigarro. Antes, já dera o litro. De catana na mão, para desbravar vegetação indesejada, montou no rio uma rede, uma espécie de campo de voleibol aquático, mas com uma rede muito fina. De regresso à margem, montou o resto do estenderete. Numa pequena mesa colocou uma balança digital, um estojo com pinças, tesouras…alguns formulários…

Paulo Barros é investigador no Laboratório de Ecologia Aplicada da Universidade de Trás-os-Montes e anda a caçar morcegos. Para os estudar. Para já, o projecto é individual, mas Paulo Barros espera vir a conseguir uma bolsa para um futuro doutoramento na academia.

"Em Portugal, sabe-se muito de morcegos, mas dos cavernícolas, dos florestais há falta de informação, sobretudo a Norte, e é essa lacuna que eu estou a tentar colmatar", explicou, anteontem à noite, durante uma "caçada" no rio Tâmega, em Chaves.
Junto da rede, Marco Fachada, amigo de Paulo Barros, interrompe a explicação. “Já está aqui um”, grita. Paulo, com um frontal luminoso na cabeça, corre para lá. “Já está a morder a rede”, anota Marco. Paulo dá uma ajuda para desemaranhar o morcego da rede. Quando consegue, mete-o num pequeno saco. “Vai ficar aqui cerca de 15 minutos para se acalmar”, explica.

De regresso à mesa e passados os 15 minutos, Paulo começa o estudo. Marco anota o que Paulo vai dizendo: “É um morcego anão, é um macho adulto, pesa 4,6 gramas e nas observações põe que está sexualmente activo”. Há gargalhadas. Paulo explica: “Sim, isso vê-se porque tem os testículos dilatados”. “E biopsia?”, pergunta Marco. “Não, desta espécie não é preciso”, esclarece Paulo. Com os testes feitos, Paulo abre a mão e solta o morcego. “Vai à tua vida”, diz-lhe.

Fonte: Jornal de Notícias

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