A atuação dos guarda-parques brasileiros ainda é desconhecida por seu próprio país. O trabalho é totalmente informal, sem qualquer tipo de apoio das autoridades locais e federais. Os voluntários são formados nos cursos de capacitação para a formação de Guarda-parques, que são promovidos por instituições privadas. Hoje o estado do Amapá conta com mais de 100 guarda-parques, no entanto a maioria não exerce as atividades por diversos fatores, inclusive a falta de reconhecimento e valorização. Os voluntários vão para as áreas protegidas sem nenhum equipamento de segurança e na maioria das vezes, precisam tirar do próprio bolso para custear suas despesas, como transporte, alimentação e outros.
Para discutir e mitigar situações como esta no país, os Guarda-parques do estado do Amapá realizarão em 2009, no Parque de exposições da Fazendinha, o I Congresso Brasileiro dos Guarda-parques, onde serão discutidos diversos assuntos referentes a atuação deste profissional na proteção da biodiversidade. O evento deverá contar com participações importantes, como o Ministro do meio ambiente do Brasil Carlos Minc, guarda-parques de Portugal, Espanha, Austrália, Argentina, Uruguai, Suriname e África, que irão falar sobre as atuais condições trabalhistas de sua profissão em seus respectivos países. O evento terá como objetivo principal a discussão de melhorias da qualidade de vida deste profissional tão importante, mas que infelizmente não é reconhecido pelo Brasil da forma que deveria. O evento ainda não tem data definida, mas verifica-se a possibilidade de acontecer nos meses de agosto ou outubro.
Em julho de 2008, foi criado pelo governo federal brasileiro um decreto que reconhece como guarda-parques, apenas os militares, excluindo por completo a existência das pessoas que passam pelos cursos de capacitação profissional e que são as mais interessadas em defender a natureza. Tal situação será exposta no congresso dos guarda-parques com a intenção de se elaborar uma carta encaminhada ao Presidente do Brasil, senhor Luiz Inácio Lula da Silva, para que o mesmo reconsidere e reconheça o profissional guarda-parque da maneira como ele deve ser valorizado, tendo todos os direitos trabalhistas profissionais respeitados e tendo as condições necessárias de realizar seu trabalho com segurança e eficiência.
O estado do Amapá é um dos mais ricos em áreas protegidas. Cerca de 74% do seu território é mantido em várias categorias de unidades de conservação. Entretanto, não existem profissionais atuando na proteção dessas áreas, fazendo com que as mesmas tornem-se alvos fáceis de caçadores, traficantes, fazendeiros e outras pessoas que sentem-se livres para destruir toda a biodiversidade que existe nesses locais. Na tentativa de amenizar esses problemas, os Guarda-Parques fazem um trabalho voluntário e arriscado. Muitos agem sozinhos, sem nenhum tipo de equipamento de defesa ou comunicação. Na maioria das vezes ficam expostos aos riscos de bater de frente com caçadores e traficantes no lugar onde trabalham. Felizmente até hoje nenhum guarda-parque foi morto fazendo seu trabalho.
Por todo o Brasil existem pessoas empenhadas na proteção da natureza. Pessoas essas que foram capacitadas a atuar como autoridade da natureza, mas que o governo infelizmente finge não ver e não oferece suporte algum. No Amapá, os guarda-parques atualmente realizam atividades de patrulhamento, educação ambiental e monitoramento de fauna silvestre, com animais ameaçados de extinção como a Onça-pintada (Panthera onca) e Onça-parda (Puma concolor). Todo este trabalho é informal e não há apoio algum por parte das autoridades locais. Com a atuação destes profissionais, ainda que de forma informal e voluntária, foram evitadas queimadas, caça ilegal de animais em áreas protegidas e a contribuição positiva para a reprodução de algumas espécies.
Com a realização do I Congresso Brasileiro de Guarda-parques, esperamos chamar a atenção do país, principalmente do governo federal, para que reconheçam não somente os militares como guarda-parques, mas também a sociedade civil, nas pessoas que se capacitam para desenvolver tal trabalho porque acreditam que o Brasil tem que ser protegido e que temos muito a oferecer para o mundo. Deste evento deverão sair propostas que serão levadas e discutidas no Congresso Mundial que acontecerá em novembro na Bolívia, onde confraternizaremos com todos os Guarda-parques do planeta que assim como nós acreditam que seu trabalho é importante para a proteção da biodiversidade, e defendem uma melhor qualidade de vida no trabalho que desenvolvem.
E assim caminharemos na busca e confiança de que dias melhores estão por vir para todos nós que nos dedicamos a este trabalho tão bonito e tão gratificante. A biodiversidade agradece ao trabalho destes heróis!
Saudações ambientais a todos!
Atenciosamente,
Rayssa Amaral Barros – Guarda-parque Brasileira