Por enquanto ainda está vazio, mas o centro nacional de reprodução do lince-ibérico, em Silves, poderá começar a receber animais a partir de Setembro. Os governos de Portugal e Espanha estão a ultimar os preparativos. O texto do protocolo de cedência dos animais já está "inteiramente acordado" e deve ser assinado em Julho, revelou o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa.
Nos últimos 20 anos, as populações de lince-ibérico (Lynx pardinus) registaram uma quebra de 90 por cento. Mas o destino desta espécie parece estar a mudar. O programa espanhol de reprodução em cativeiro conta hoje com 78 linces. Destes, 16 poderão vir para Portugal, para o centro de reprodução de Silves, inaugurado a 23 de Maio e com uma área total de cinco a seis hectares.
"O texto do protocolo [de cedência] está inteiramente acordado", revelou o secretário de Estado Humberto Rosa ao PÚBLICO, depois de uma reunião de trabalho na sexta-feira em Cáceres, com o seu homólogo espanhol e representantes das comunidades autonómicas.
O documento "poderá ser assinado em Julho. Só falta definir o calendário e o local", acrescentou. Assim sendo, os primeiros linces cedidos por Espanha poderão chegar a Silves a partir de Setembro. "Esta data foi definida por critérios técnicos, relacionados com o ciclo biológico do animal". Para os receber estará uma equipa de nove técnicos e cinco vigilantes.
"As partes envolvidas neste esforço de conservação estão muito sensibilizadas e nota-se um crescente consenso social", comentou Humberto Rosa.
"Seria uma vergonha que estes dois países deixassem extinguir o felino mais ameaçado do mundo", constatou o secretário de Estado.
Na semana passada, o esforço de conservação do lince valeu à Junta de Andaluzia o prémio de um dos cinco melhores programas Life de conservação da natureza atribuídos pela União Europeia.
Mas o cativeiro não é garantia suficiente para a sobrevivência de uma espécie. A par da reprodução, Portugal e Espanha estão a preparar o habitat, mais concretamente o matagal mediterrânico, para que os linces possam um dia ser libertados.
"O calendário define que temos três anos para escolher uma zona para reintroduzir o lince". Estão em estudo a Malcata, Moura-Mourão-Barrancos e o Vale do Guadiana.
"É preciso fazer com que os factores que levaram ao desaparecimento da espécie não estejam lá ou que estejam controlados", explicou. Tal é o caso da recuperação das populações de coelho-bravo, principal presa do lince.
Além disso, existem "critérios de sensibilização das populações e o potencial de conectividade das zonas, para não termos populações isoladas".
O objectivo de voltar a ter linces "só será conseguido com a cumplicidade dos gestores do território: agricultores, caçadores, proprietários. É fundamental o entorno social para que os possamos manter".
Fonte: Jornal Público
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