sábado, 27 de fevereiro de 2010

Vigilantes da Natureza: Poucos mas utilitários nos momentos críticos

Como já havia sido referido em Comunicado da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza (aqui), os Vigilantes da Natureza da Madeira têm estado, após a catástrofe, no terreno a ajudar a população. Esta notícia confirma mais uma vez que essa situação está a acontecer em tempo real.
Embora a notícia refira os Vigilantes da Natureza de modo pouco significativo, o facto é que, tendo o Corpo de Vigilantes da Natureza da Madeira apenas 34 elemento, isso é bastante significativo no que toca a meios humanos disponíveis na ajuda deste momento de catástrofe.
Sendo a catástrofe da Madeira de tal modo grave que não se deva "puxar galões" de quem ajuda ou não, o facto é que, ao contrário de situações algo idênticas passadas no Continente, pelo menos aqui a notícia cita os Vigilantes da Natureza (embora de modo subtil) como agentes no terreno com capacidade e vontade de ajudar as populações.
Seja referido ou não pela Comunicação Social, é um facto que os Corpo de Vigilantes da Natureza têm sentido de Corpo e sentido de Solidariedade, estando presente onde é preciso!
Não é apenas a salvaguarda dos valores naturais que move os Vigilantes da Natureza. As vidas humanas estão acima de qualquer valor e neste momento tem sido essa a prioridade!


Bocado de pão para cinco pessoas

Na Rua de Santa Maria, berço do Funchal, habitantes queixam-se de que foram esquecidos e passaram fome


A Rua de Santa Maria, a primeira rua do Funchal, tem lama pelas costuras. A mítica zona de pescadores, prostitutas e marinheiros, comerciantes e artistas, perdeu o charme há muito tempo. Os prédios estão degradados e a recuperação imobiliária é lenta. Cada vez há menos pessoas a morar por aqui. Ontem de manhã, sete dias depois da catástrofe, ainda se vivia em lágrimas a desgraça que lhes bateu literalmente à porta.


"Fomos muito esquecidos. Compreendo que havia muitas frentes para acudir, mas ficámos sozinhos, praticamente sem comer, durante três dias. Sem água nem luz. Não conseguíamos sair de casa. Havia dois metros de lama. Tapou-nos a porta e ficámos encurralados." O relato de Maria da Graça, 58 anos, é interrompido porque as equipas de rua limpam o lixo amontoado.


A água lamacenta ainda corria, e a lama continuava a dificultar a passagem. Mal sabíamos que quatro horas depois a rua estaria praticamente limpa, como se tivesse havido um milagre, a exemplo do que acontece em praticamente toda a cidade. Só que, naquele momento, e apesar de reconhecer o esforço das equipas de rua, a preocupação de Maria tinha um nome: comida. "De sábado a segunda-feira, eu só tinha em casa bolachas e um bocado de pão para dar ao meu marido, filho e nora, ambos desempregados, mais um neto de um ano." Maria leva as mãos à cara e derrama o choro.


Esta é uma rua de armazéns onde nada ficou em stock. Toneladas de produtos de limpeza, bebidas, sapatos, malas, chocolates, sacos enormes com amendoim misturam-se com embalagens de veneno para ratos, uma substância química altamente tóxica e mortal. Por ali rondavam alguns sem-abrigo, como o Bruno, que tentavam retirar o que "ainda estava bom para comer. Isto está dentro de prazo, é só limpar".


Na porta ao lado, Maria de Fátima, de 69 anos, repete vezes sem conta que precisa de ir ao hospital, sente-se mal, não dorme. Nesta azáfama de limpezas, há perigos à espreita. Uma adufa aberta sem protecção por pouco não provoca um acidente. Valeu os reflexos de um dos muitos voluntários que por ali estão, desde escuteiros a vigilantes da natureza do parque natural da Madeira.


Romana Góis aparece à soleira da porta com as mãos trémulas. As queixas são as mesmas. "Havia quase dois metros de altura de terra. Sou doente oncológica e preciso de medicamentos e tenho de arranjar alguém que os vá comprar. A farmácia mais próxima ficou soterrada. Estou há oito dias fechada", afirma.


Vizinha do restaurante Jacquet, totalmente destruído, o mesmo acontecendo à sede do Marítimo, e a todo o comércio daquela artéria, Maria José, de 47 anos, chama-nos para vermos onde mora.


Não é muito fácil descrever as condições. É um pátio interior sem condições de habitabilidade, e não era preciso a catástrofe para perceber que ninguém pode viver aqui. Muito menos seis pessoas em dois quartos. " Ficámos aqui, sem comida. Vieram ontem dar- -nos dois papo-secos, manteiga e um pacote de queijo. Quero que a minha filha grávida vá para casa da sogra." Mas, no meio da desgraça, o milagre aconteceu. Três horas depois, a rua estava limpa.


Fonte: Diário de Notícias

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