Dominada pelo sobreiro, pelo pinheiro-bravo e pelo eucalipto. Usada essencialmente para produzir madeira, pasta de papel e cortiça e com 85 por cento dos seus hectares dominados por privados - contrariando a média europeia, de 10 por cento. Este é o bilhete de identidade da floresta portuguesa, que procura ainda que se identifiquem os seus donos, para que se consiga fazer uma gestão que a torne mais sustentável. Desafios que se colocam numa altura em que Portugal inicia a sua colaboração no Livro Verde europeu das florestas (ver texto secundário), que procura dar respostas precisamente nessa área.
Para Rui Barreiro, secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, estas características "tornam o trabalho de gestão mais árduo", isto porque esses hectares por vezes nem sequer têm dono conhecido. "Alguns herdaram e não sabem, outros emigraram, alguns desistiram de cuidar dos terrenos, outros mudaram-se para as cidades. É uma situação herdada da lei dos morgadios [instituída durante o reinado de Felipe III, por volta de 1600], em que as terras eram divididas pelos filhos até que se chegou a esta situação", explica.
Por causa disto, o primeiro passo para uma melhor gestão da floresta portuguesa deverá ser o cadastro dos donos dos terrenos, como sugeriu ao DN Eugénio Sequeira, membro do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS). "Vinte por cento dos terrenos florestais, cerca de 30 milhões de hectares, têm dono desconhecido", informa.
Para tentar minimizar o pro-blema, o Ministério da Agricul- tura decidiu instituir as ZIF (zo-nas de intervenção florestal) onde os pequenos proprietários se juntam às associações de produtores e ao Estado para melhorar a ges-tão das florestas (ver entrevista).
"A fragmentação da floresta no caso de Portugal tem de ser tida em conta a nível da União Europeia, aliada a uma estratégia de desenvolvimento para os espaços rurais e a uma maior investigação entre as universidades portuguesas e outras de países com uma floresta semelhante à nossa". Esta é a sugestão de Duarte Caldeira, presidente da Liga Portuguesa dos Bombeiros, como primeiro passo para uma maior sustentabilidade da floresta nacional.
Outro passo seria promover a mudança de espécies de árvores dominantes: "É preciso que haja um fomento de espécies como o carvalho, que ardem menos, garantindo aos produtores um rendimento enquanto elas crescem", aconselha Eugénio Sequeira. A floresta portuguesa é dominada pelo sobreiro, pinheiro-bravo e eucalipto, que o membro do CNADS considera "um rastilho" quando se fizerem sentir ainda mais os efeitos das alterações climáticas. "É preciso aumentar o número de florestas com alto valor ambiental, gerindo-a para diminuir o risco de incêndio", diz, acrescentando que população deve ver o valor que a floresta tem para o País, "para que obriguem o Estado a actuar ".
Tanto Eugénio Sequeira como Rui Barreiro consideram que as actividades florestais, como a caça ou o lazer, desde que feitos com responsabilidade, melhoram a vigilância desse espaço e ajudam a que se mantenha mais limpo.
? "Até 2007 tínhamos sete vezes mais fogos por habitante do que Espanha. Este número desceu para duas vezes nos anos seguintes". Eugénio Sequeira, do CNADS, diz que o cenário dos incêndios melhorou, mas um aumento dos efeitos do aquecimento global pode ser fatal para Portugal. "É preciso desenvolver a investigação no combate aos incêndios", acrescenta Duarte Caldeira da Liga Portuguesa dos Bombeiros. A opinião é sublinhada por Eugénio Sequeira que alerta para a falta de cartografia que ajude a chegar aos fogos.
Fonte: Diário de Notícias
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