Pressionada por todos os lados, a petrolífera decidiu instalar acampamentos nas imediações das zonas ameaçadas pela maré negra. Milhares de pessoas foram contratadas para operações de limpeza da costa.
A BP começou ontem a povoar uma série de acampamentos montados junto às praias e pântanos do estado da Luisiana, nos Estados Unidos, que estão ameaçados pela maré negra provocada pela explosão e afundamento da plataforma Deepwater Horizon, no passado dia 20 de Abril.
A companhia petrolífera está a acelerar os seus esforços para limpar a costa e mitigar os prejuízos ambientais do derrame - enquanto prossegue a sua mais recente manobra para selar o poço e conter a fuga de petróleo. Segundo estimativas oficiais, já vazaram mais 84 milhões de litros de crude para as águas do golfo do México.
"Estamos muito focados na resposta a este desastre. Nos últimos dias não temos sentido tanto o impacto na costa, mas mesmo assim reforçamos a nossa actividade na linha da frente. Para já estamos a ser bem sucedidos nas operações de limpeza", referiu o director operacional da BP, Doug Suttles, que o PÚBLICO acompanhou em Port Fourchon durante uma visita preliminar ao primeiro desses acampamentos, com capacidade para mais de 2500 pessoas.
Port Fourchon é a localidade mais a sul do estado do Luisiana e serve como base de apoio para as plataformas off-shore e de centro de operações para os fornecedores da indústria petrolífera. Poderá haver excessiva benevolência em qualificar aquela aglomeração como uma "localidade": na realidade, o território está ocupado por refinarias, estaleiros, armazéns gigantescos e lotes descampados onde repousam, como se fossem peças de Lego, os blocos estruturais que se imagina possam compor uma plataforma. Não se vêem casas, ruas, jardins; não é um lugar bonito.
No cais a que se acede através do portão C, a BP reservou baías para estacionar duas grandes barcas que funcionam como hotéis flutuantes - apesar dos quartos serem camaratas improvisadas em contentores, empilhados uns em cima dos outros.
Em cada contentor há três "quartos" com quatro beliches, duas retretes e dois chuveiros. Há ar condicionado, mas nem uma única janela. "Este é o mesmo equipamento e estas são exactamente as mesmas condições em que vivem os trabalhadores das plataformas em alto mar", explica Chad Martin, dono da companhia que fornece as acomodações.
Tendas para recuperar
Quase ao lado, mas já em terra firme, foi construída uma "cidade de tendas" em pouco menos de uma semana. De fora, parece um acampamento militar, com a diferença que em vez do habitual camuflado, as instalação são (por enquanto) de um branco imaculado e destinam-se a civis. Há três pavilhões para dormir (a lotação é de 84 camas por tenda), instalações sanitárias, e ainda um grande refeitório e área recreativa e de entretenimento.
"A ideia é que os trabalhadores cheguem e tenham à sua disposição uma infra-estrutura que garante que eles podem descansar e recuperar-se para o dia seguinte", explica Forrest Jackson, o director executivo da Cottonwood, encarregada da construção. A empresa garante a limpeza e a alimentação: "Estamos capacitados para servir três refeições por dia a mil pessoas".
Este responsável escusou-se a revelar o valor do seu contrato com a BP. Adiantou, todavia, que, além das tendas, a companhia petrolífera já encomendou "soluções menos provisórias" para acomodar o seu novo batalhão de trabalhadores - "a grande maioria deles locais", apressa-se a acrescentar.
E por quanto tempo estão estes serviços contratados? Desta vez, Jackson não responde porque não sabe. "Nós temos um compromisso em aberto com a BP. A indicação que nos deram foi que iriam ficar o tempo que fosse preciso...", informou.
Durante o último mês, o trânsito das poucas estradas em linha recta que ligam o rendilhado delta do rio Mississípi às principais cidades do estado da Luisiana, Nova Orleães e Baton Rouge, tem-se intensificado com um vaivém de autocarros escolares e de turismo a transportarem as centenas - milhares - de pessoas contratadas pela BP para a operação de limpeza.
É trabalho que não é difícil, mas não deixa de ser um desafio: são longas horas sobre um calor húmido e impiedoso, a varrer a areia, recolher detritos e instalar barreiras de protecção. As "cidades de tendas" permitirão acrescentar pelo menos quatro horas "úteis" ao horário diário destes funcionários: esse era, em média, o tempo que perdiam na viagem até aos vários pontos da costa. Se as novas instalações lhes agradam ou não, é impossível saber. Todos os funcionários que o PÚBLICO tentou abordar disseram ter ordens para não falar à imprensa e desapareceram de vista.
Na praia da Grand Isle, a estância piscatória que marca o fim da terra e o início do golfo do México, não há vivalma. Esta é a época alta para os amantes da pesca do caranguejo, mas nas várias entradas para o areal foram colocadas tabuletas a avisar que a praia está fechada - como se as barreiras militares e a fita amarela que habitualmente isolam os locais de crimes não fossem suficientemente dissuasoras.
Areia mais fácil de limpar
Ao longo do areal, paralelo à linha de costa, foi erigido um muro de areia com pouco mais de meio metro, onde assentam as barreiras de lona plastificada cor de laranja destinadas a absorver o óleo trazido pelas ondas. No último fim-de-semana, quando o Presidente Barack Obama passou pela localidade, foi fotografado a segurar uma bola de crude recolhida da areia. Agora a praia está limpa: não há vestígios de petróleo, mas o facto deve-se mais às correntes marítimas do que aos esforços dos funcionários da BP.
"As correntes afastaram a mancha outra vez para alto mar, mas quando o vento mudar isto vem dar tudo outra vez à costa. Espero que seja em breve, porque a areia é muito mais fácil de limpar", assegura Don Schouest, um pescador desportivo que nunca perde uma temporada na Grand Isle. "Quanto mais tempo este petróleo permanecer na água, mais danos para o peixe e o camarão, que garantem a subsistência da povoação", acrescenta.
Até agora, as autoridades federais vedaram quase 40 por cento das águas do golfo do México à pesca. Mas quase ninguém se aventura a procurar os locais que permanecem abertos para capturas. "Entre petróleo e dispersantes, ninguém sabe até que ponto as águas são tóxicas. Eu não como peixe daqui nem que me paguem!", confessou Don Schouest.
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BP coloca cúpula de confinamento sobre fuga de petróleo no Golfo do México
A BP fez descer uma cúpula de confinamento sobre o poço petrolífero que está a libertar crude no Golfo do México, foi hoje anunciado. Barack Obama cancelou as viagens que tinha marcadas e visita hoje a costa afectada pela maré negra.
A colocação desta estrutura foi confirmada ontem à noite por Thad Allen, da Guarda Costeira norte-americana. “A colocação da cúpula de confinamento é um avanço positivo na mais recente tentativa da BP para tentar conter a fuga”, disse Allen, citado pela Bloomberg. “No entanto, será preciso mais tempo para confirmarmos que este método vai resultar e saber até que ponto vai mitigar a fuga de crude para o ambiente”. Segundo Tony Hayward, director-executivo da companhia britânica, será preciso esperar entre 12 a 24 horas. “Há sempre um risco”, alertou quando falava aos jornalistas em Houston. Tanto mais que, disse, este método nunca foi tentado a estas profundidades.
Assim que a cúpula estiver estabilizada, a 1500 metros de profundidade, o plano é começar a conduzir parte do crude e do gás para vários navios à superfície, através de uma grande mangueira.
Esta cúpula está equipada com válvulas que vão permitir injectar água quente para evitar a criação de cristais de gelo, algo que esteve na origem do insucesso de uma tentativa falhada da BP.
Mesmo que tudo corra bem, esta táctica só vai conseguir uma solução temporária e parcial. “Vamos continuar com as operações na fonte da fuga, à superfície e ao longo da preciosa costa do Golfo”, garantiu Allen.
Até agora, a maré negra já chegou a 225 quilómetros de costa. A fuga tem libertado uma média de 19 mil barris por dia, segundo estimativas oficiais, desde que a plataforma petrolífera Deepwater Horizon explodiu a 20 de Abril e se afundou dois dias depois. Onze pessoas morreram.
A Casa Branca informou que o Presidente Barack Obama cancelou uma viagem à Austrália e Indonésia, de 13 a 19 de Junho, para se dedicar mais à maré negra e a outros assuntos. Hoje chega à costa do Golfo para acompanhar o evoluir da situação, naquela que é a terceira visita à região por causa da maré negra. O Presidente deverá encontrar-se com alguns moradores e empresários da zona. "O presidente está consciente da dor e sofrimento que este acidente está a causar", disse ontem o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.
Numa entrevista ontem à CNN, Obama confessou estar “furioso com toda a situação” porque “alguém não ponderou as consequências das suas acções”.
Ontem, as agências Moody’s e Fitch baixaram o rating da BP e avisaram que poderão baixá-lo ainda mais, tendo em conta os custos das operações de limpeza.
BP já está a recolher crude do poço no Golfo do México
A BP já está a recolher num navio à superfície parte do crude que, há 46 dias, está a ser libertado por uma fuga de um poço petrolífero no Golfo do México.
Segundo Thad Allen, da Guarda Costeira norte-americana, as primeiras estimativas indicam que estão a ser recolhidos cerca de mil dos 19 mil barris libertados diariamente.
Hoje, a BP anunciou que conseguiu instalar sobre a fuga, a 1500 metros de profundidade, uma cúpula de confinamento para conduzir o crude e o gás libertados para a superfície, através de uma grande mangueira.
Apesar deste primeiro sucesso depois de várias tentativas falhadas, as autoridades norte-americanas apresentam-se cautelosas. Tanto mais que a empresa britânica admite que só conseguirá estancar a fuga, de forma definitiva, em Agosto, quando os dois poços de apoio que estão a ser perfurados desde o início de Maio estiverem concluídos.
A quantidade de crude recuperado pela BP deverá aumentar, admitiu Thad Allen aos jornalistas numa conferência de imprensa. Anteriormente, o chefe das operações da BP, Doug Suttles, disse que a cúpula de confinamento deverá capturar até 90 por cento do crude.
Obama contra pagamento de dividendos aos accionistas da BP
Barack Obama regressou hoje à região afectada pela maré negra no golfo do México e acusou a BP de pretender distribuir dividendos apesar da catástrofe.
O Presidente norte-americano disse compreender que a petrolífera tem obrigações em relação aos seus accionistas, mas sublinhou que a empresa tem também deveres morais e legais.
“Há informações de que a BP irá pagar 10.500 milhões de dólares em dividendos neste trimestre”, disse Obama. “Não tenho problemas com o facto de a BP cumprir as suas obrigações legais, mas quero que seja muito clara quanto ao facto de ter obrigações legais e morais pelos danos que causou.”
Nesta visita Obama deverá encontrar-se com os governadores dos estados do Luisiana, Alabama e Florida e com o almirante Thad Allem da Guarda Costeira norte-americana, o responsável federal que tem acompanhado as operações no local.
Para regressar às regiões afectadas pela maré negra, adiou na quinta-feira as visitas oficiais à Austrália e à Indonésia que tinha previsto. Aliás, esta viagem à Ásia já tinha sido adiada em Março porque iria ser votada no Congresso a reforma do sistema de saúde norte-americano. O porta-voz da Casa Branca Robert Gibbs disse aos jornalistas que Obama telefonou ao Presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, e ao primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, para lhes dizer que “lamenta profundamente o facto de ter de adiar a viagem”.
Na quinta-feira Obama disse à CNN estar “furioso” com o que está a acontecer no golfo do México e respondeu às críticas de que não estaria a reagir com indignação: “O meu trabalho é resolver o problema e a questão principal não é quão furioso eu estou”.
Fonte: Publico.pt
sábado, 5 de junho de 2010
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