A intensidade do fogo já está a fazer estragos em quatro áreas protegidas, apesar de por agora ter poupado os valores naturais mais importantes.
As frentes activas no Parque Nacional Peneda-Gerês e nos parques naturais da Serra da Estrela, Alvão e Douro Internacional deixam para trás uma paisagem que parece o negativo de uma fotografia colorida. A Mata do Cabril e a Reserva Biogenética da Serra da Estrela estão entre as maiores preocupações.
A época de incêndios “até estava a correr bem. Os problemas começaram a 11 de Agosto” e acabou-se a relativa acalmia, contou ao PÚBLICO Armando Carvalho, director do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Centro, responsável pela Serra da Estrela.
De 1 de Janeiro a 2 de Agosto arderam 416 hectares, em comparação com os 915 hectares do período homólogo de 2009, de acordo com os dados mais recentes do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).
“Até ontem à noite, 80 por cento da área ardida eram matos incultos, com arvoredo muito disperso”, disse Armando Carvalho. Mas as chamas não se ficaram por aí e chegaram à orla da Reserva Biogenética do parque. “Não são afectações graves mas sim em pequenas zonas de orla. Não temos estragos significativos”. Ainda assim, “algumas zonas com valor de conservação já arderam”.
Armando Carvalho não é o único a estar preocupado. Lagido Domingos, director do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte, é o responsável pelos 70 mil hectares da Peneda-Gerês. “Tranquilo, tranquilo, só quando começar a chover”, confidenciou ao PÚBLICO. “Uma das nossas maiores preocupações é a Mata do Cabril, onde ontem as forças especiais fizeram um trabalho notável e barraram o foco principal”, contou. Lagido Domingos está preocupado com os carvalhos alvarinhos, o feto do Gerês, os teixos centenários e os habitats do lobo-ibérico e da cabra-montês. Mas também com as matas do Cabril, Albergaria e Ramiscal. Por enquanto, estas duas últimas não foram atingidas. Mas o fogo já “chamuscou” núcleos importantes de azevinho, pinheiro silvestre e medronheiro.
Numa área protegida, todos os valores naturais contam. “Sempre que arde uma área protegida há valores naturais que se perdem. Até seria muito bom que não ardesse mato, que também tem um valor enorme”.
Nos últimos meses, a Peneda-Gerês limpou 600 hectares e fez 70 hectares de fogo controlado, para evitar a propagação. Junto à Mata de Cabril, o parque removeu terra vegetal, com carga orgânica e mais propensa ao avanço das chamas, até chegar à terra mineral.
Na Serra da Estrela, onde o parque detém apenas quatro dos 88 mil hectares, as autoridades trabalharam com as juntas de freguesia e os conselhos directivos de baldios, fez-se gestão de matos com maquinaria pesada e procedeu-se a fogos controlados em cem hectares.
Ontem, a Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza criticou a recente restrição à circulação de viaturas de primeira intervenção. “Dantes, à noite havia sempre gente no terreno para evitar reacendimentos”, disse Francisco Correia, presidente da associação. “Hoje, as viaturas só saem quando há problemas” para poupar custos no combustível e na manutenção, contou ao PÚBLICO.
Lagido Domingos justifica as restrições com a “racionalização de custos” e rejeita qualquer relação com o combate às chamas. “Não há caso nenhum de vigilância que se tenha deixado de fazer por causa da redução de custos”, garante.
Área total ardida (ha) na Rede Nacional de Áreas Protegidas:
2000: 15.348 (1022 fogos)
2001: 13.522 ha (944 fogos)
2002: 11.436 (695 fogos)
2003: 28.272 (604 fogos)
2004: 6.458 (552 fogos)
2005: 20.432 (701 fogos)
2006: 12.554 (537 fogos)
2007: 4.690 (684 fogos)
2008: 2.538 (472 fogos)
2009: 10.058 (727 fogos)
Fonte: Publico.pt
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
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