quarta-feira, 18 de maio de 2011

Parque eólico de Barão de S. João pára 180 horas


    Junto a aldeia de Barão de São João, no barlavento algarvio, um parque eólico foi pioneiro na estratégia de conciliação entre produção de energia e respeito pela avifauna local. Em plena rota europeia de aves com estatuto protegido, o funcionamento do parque eólico só foi autorizado porque a promotora E.ON se uniu à consultora ambiental Strix para desenvolverem uma aplicação pioneira a nível mundial. A tecnologia, assente em dois radares e na aplicação informática da Strix, permite que os aerogeradores sejam “avisados” da presença de aves, com a consequente paragem das pás.




O parque foi inaugurado no ano passado e, por isso, 2010 tornou-se a “prova-de-fogo” no funcionamento da tecnologia. Os resultados, apresentados recentemente no relatório anual da Strix a que o AmbienteOnline teve acesso, ficaram acima das expectativas iniciais da consultora. Tanto a nível ambiental, como nos impactes na produção eléctrica do parque.

O documento dá conta de que, no período de monitorização de aves migradoras, os aerogeradores pararam em 36 dias (33 por cento do total), o que se traduz em 140 horas de paragem total ou parcial dos aerogeradores, um valor abaixo das 150 horas anuais previstas pela Strix. Em termos de paragens totais, as pás do parque de Barão de São João imobilizaram-se durante 80 horas, distribuídas em 27 dos dias de monitorização.

O director executivo da Strix, Miguel Repas, adianta ainda que não houve mortalidade monitorizada de aves migradoras no parque eólico. O feito representa uma vitória para a empresa, que conseguiu comprovar que a tecnologia pode contribuir na resolução dos conflitos ambientais entre biodiversidade e infra-estruturas de enegia renovável. Mesmo assim, esta vitória não deixa de ter um gosto a “esforço inglório”. «Por vezes, algumas aves que vemos passar por aqui, depois de desligarmos as torres eólicas, acabam por colidir no parque eólico mais próximo», lamenta o responsável.

Isto porque os parques eólicos vizinhos nesta região algarvia, entre Lagos e Sagres, não são obrigados a implementar estas medidas de minimização do impacte ambiental das infra-estruturas, o que acaba por comprometer os esforços do parque de Barão de São João. O próprio Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) está sensibilizado para a importância de um programa regional que possa englobar todos os parques vizinhos sob um mesmo sistema de radares. Segundo a Strix, têm sido promovidos esforços junto dos vários promotores dos parques eólicos da região para que se chegue a um acordo quanto a um programa deste tipo.

O olho cego do radar e o discernimento humano



A tecnologia de radares do parque de Barão de São João, instalada a dois quilómetros do parque durante os três meses em que há presença de aves migratórias, é complementada pelo olho humano. Além da aplicação desenvolvida totalmente pela Strix, que permite diagnosticar os alertas do radar e despistar “falsos positivos”, são nove os ornitólogos da Strix em postos de observação que determinam o risco real de

uma colisão de aves com as pás do aerogeradores. Desta forma, evitam-se paragens desnecessárias do parque e os consequentes custos para o promotor.

Em paralelo com o sistema de paragem das pás, o parque eólico possui também dispositivos BDF (Bird Deflector Device) nas linhas eléctricas de alta tensão. As estruturas helicoidais instaladas permitem que as linhas eléctricas se tornem mais visíveis para as aves, com uma maior noção do espaço atravessado.

Foto: Nadine Pires/Strix

Autor / Fonte

Marisa Figueiredo

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