Numa altura em que se se assinala 40º aniversário da criação da Reserva Natural das Selvagens, que desafios é que se colocam agora em termos de conservação daquelas ilhas e de manutenção do estatuto conquistado?
Paulo Oliveira - Eu costumo dizer que o trabalho de conservação da natureza é um processo dinâmico que nunca tem fim. Em diferentes alturas deste processo temos que ter diferentes abordagens e os desafios suscitam distintas intervenções. As Selvagens, enquanto reserva, atingiu já uma elevada maturidade nos seus processos de gestão, pelo que a prioridade de momento, numa conjuntura de desafio económico, passa pela manutenção dos níveis de esforço actualmente implementados.
JM - Que mais-valias destaca sobre as Selvagens não só para a natureza mas também para o desenvolvimento regional? Há potencialidades, como na área do turismo de natureza, que podem ser dinamizadas?
PO - Não tenho dúvidas de que as Selvagens são, por toda a mística que as envolve, um veículo de promoção da Madeira. Obviamente que o facto de serem a única área protegida de Portugal detentora do Diploma Europeu em muito contribui para isto. O turismo de natureza é já uma realidade nas Selvagens…obviamente que, dadas as características inerentes à sua localização, ainda tem uma expressão inferior ao desejado.
Actualmente a maioria das visitas são efectuadas por navegadores estrangeiros em rota para as Canárias, mas era muito bom que as Selvagens entrassem no pacote de propostas disponibilizado pelas empresas aos turistas e, por consequência, aos residentes. Nós já temos criadas as bases administrativas e logísticas para que isto aconteça, a iniciativa fica agora do lado das empresas privadas.
JM - As Selvagens têm tido a devida divulgação nacional e internacional, enquanto Reserva Natural? Que mais poderia ser feito a este nível?
PO - Eu diria que sim. Por um lado o acompanhamento e o apoio que é dado aos investigadores que nos visitam tem resultado em inúmeros trabalhos técnicos divulgados em múltiplas conferências internacionais. Noutro tipo de divulgação, dirigida a leigos, diria também que a aposta feita neste ano de aniversário especial, em que contamos com a gentileza do João Rodrigues nos apadrinhar, foi uma aposta ganha. O João conseguiu levar o nome da Reserva ainda mais longe…
JM – Os vigilantes nas Selvagens e/ou as autoridades têm detectado situações de infracções por parte de embarcações que cruzam aquela zona, como por exemplo, lixos deitados ao mar?
PO - O lixo oceânico é um problema que ultrapassa a dimensão das Selvagens, as autoridades regionais pouco podem fazer para prevenir este problema que se estende a todos os oceanos do mundo. O número de infracções estritamente ligadas à nossa jurisdição são pontuais e por estarem controladas não nos suscitam preocupações de maior. Até porque existe uma disponibilidade enorme por parte da Marinha e da Força Aérea para responderem às nossas solicitações, como aconteceu recentemente com a identificação de duas embarcações semi-rígidas em actividades ilegais na Selvagem Pequena.
Entrada livre, mas com serviços pagos
JM - Por outro lado, qual será a estratégia do Parque para continuar o seu trabalho nas diversas valências a nível regional (florestas, conservação da fauna e flora e nas Reservas naturais), numa conjuntura de menos dinheiros disponíveis?
PO - Eu acredito que em qualquer conjuntura económica as Reservas Naturais deveriam criar estratégias e mecanismos de auto-sustentabilidade, fundamentalmente através da venda de merchandising, mas também através da oferta de serviços especializados (por exemplo visitas guiadas). Saliento o facto de que não acredito que a solução seja cobrar uma taxa só para “por o pé em terra”, o que eu acredito é na disponibilização de serviços pagos por aqueles que queiram usufruir dos mesmos. Eu vejo isto numa lógica de “centro comercial”: a entrada é livre, só se paga o que comprarmos ou os serviços que usarmos.
JM - As candidaturas a apoios comunitários poderão ser determinantes para os vossos objectivos?
PO - Além da estratégia atrás referida acho que o caminho tem que ser através de financiamentos externos (eles existem para serem usados …). Aliás devo referir que a gestão das áreas protegidas, suas espécies e habitats tem sido efectuada fundamentalmente com suporte financeiro externo (comunitário ou outro). É importante realçar que isto não configura um voltar de costas por parte do Governo Regional, antes pelo contrário. O SPNM tem acesso a fundos externos porque internamente foram criadas as condições que nos permitem ter acesso a esses mesmos apoios, designadamente, por exemplo, ao nível dos encargos com o pessoal e manutenção da pesada logística que a nossa missão envolve.
Política tem sido árvore com bons frutos
JM - Estando a iniciar-se um novo mandato do Governo Regional, as políticas a implementar a área que tutela serão de continuidade ou haverá mudanças?
PO - A política de conservação da natureza na Madeira tem sido uma árvore que tem dado muitos e bons frutos…não vejo qualquer razão para que não exista uma perspectiva de continuidade da mesma.
JM - Que projectos é que o PNM pretende ainda implementar para a conservação da natureza e das espécies?
PO - Essa é uma pergunta que não pode ser respondida de forma objectiva. Como já referi, a conservação da natureza é um processo dinâmico e existe sempre o passo seguinte que vem consolidar o anterior. Posso lhe dizer que neste momento todas as áreas prioritárias para a conservação da natureza estão classificadas como área protegida e/ou Sítio da Rede Natura 2000 e todas as espécies com estatuto de conservação menos favorável são alvo de projectos específicos. Isto significa que os próximos projectos devem surgir no enquadramento lógico dos que já existem. A criação dos mecanismos de auto-sustentabilidade atrás referidos é um projecto que em muito beneficiaria a conservação da natureza na RAM.
JM - Quanto à área florestal, como tem decorrido os trabalhos de reflorestação?
PO - O trabalho de reflorestação é da competência da Direcção Regional de Florestas e em minha opinião tem sido superiormente conduzido.
JM - Agora com a chegada do tempo de chuvas e atendendo ao facto de ter sido queimada pelos incêndios do ano passado uma enorme parcela de floresta, quais as vossas preocupações?
PO - Este é o segundo inverno pos – incêndios pelo que a estabilização das áreas afectadas já evoluiu de forma positiva comparativamente ao ano passado. Obviamente que estamos perante áreas fragilizadas que podem ser afectadas outra vez se a Madeira for alvo de um regime torrencial fora do habitual.
JM - A outro nível, como está a decorrer o inventário do património rural da Madeira?
PO - Esse é um trabalho muito importante na nossa lógica de interpretação da conservação da natureza e dos bens culturais em áreas rurais. O levantamento está a decorrer bem e em breve será disponibilizado todo o conjunto de resultados obtidos até ao momento. É importante referir que o nosso objectivo não é intervir sobre esse património, não temos competências para tal, mas sim alertar para a sua existência e para a necessidade de preservarmos as nossas vivências e memórias colectivas.
Freiras da Madeira e do Bugio estão estáveis
O habitat da freira da Madeira (“Pterodroma madeira”) está «em franca recuperação», como garantiu o director do Parque Natural da Madeira, em declarações recentes ao JM. Paulo Oliveira pronunciava-se a respeito dos trabalhos de intervenção para a reabilitação dos ninhos e da colocação de mantas anti-erosivas na área de nidificação da espécie, após os incêndios de Agosto do ano passado que destruíram grande parte do maciço montanhoso central e que afectou esta comunidade.
Durante o ano em curso, os esforços desenvolvidos pelo pessoal do SPNM já começaram a dar os seus frutos, tanto que, «as aves já começaram a nidificar e a normalidade será atingida». O responsável explicou ainda que, como os incêndios afectaram sobretudo os habitats e as espécies juvenis sendo que a população reprodutora não foi tão atingida, «o decréscimo que houve o ano passado, por causa daquele desastre, não terá expressão a médio prazo». A estimativa populacional da Freira da Madeira ronda actualmente os 65 e os 80 casais reprodutores.
No que diz respeito à Freira do Bugio (“Pterodroma feae”), Paulo Oliveira explicou que a erradicação dos coelhos e dos murganhos permitiu a recuperação do habitat de nidificação desta espécie. Neste momento, esta ave, apesar de continuar ameaçada, «o seu número é estável, com tendência de crescimento, e que até vai acentuar-se» fruto ao trabalho que foi desenvolvido com o Projecto LIFE Natureza para conservação da Freira da Madeira e recuperação do habitat (2006-2010) e com o trabalho de acompanhamento que é feito nesta área. Assim, existem cerca de 160 casais reprodutores da espécie endémica.
Nasceu lobo-marinho
A colónia de lobos marinhos das Desertas tem mais um elemento, conforme noticia a página do Facebook do Parque Natural da Madeira.
«O seu mais recente elemento, que deve contar menos de um mês de idade, foi visto na Praia do Tabaqueiro durante uma visita de monitorização efectuada pelo Staff do SPNM», lê-se. Ficou ainda a promessa de que assim que o novo membro da comunidade seja fotografado, serão publicadas fotografias no Facebook.
Paulo Oliveira - Eu costumo dizer que o trabalho de conservação da natureza é um processo dinâmico que nunca tem fim. Em diferentes alturas deste processo temos que ter diferentes abordagens e os desafios suscitam distintas intervenções. As Selvagens, enquanto reserva, atingiu já uma elevada maturidade nos seus processos de gestão, pelo que a prioridade de momento, numa conjuntura de desafio económico, passa pela manutenção dos níveis de esforço actualmente implementados.
JM - Que mais-valias destaca sobre as Selvagens não só para a natureza mas também para o desenvolvimento regional? Há potencialidades, como na área do turismo de natureza, que podem ser dinamizadas?
PO - Não tenho dúvidas de que as Selvagens são, por toda a mística que as envolve, um veículo de promoção da Madeira. Obviamente que o facto de serem a única área protegida de Portugal detentora do Diploma Europeu em muito contribui para isto. O turismo de natureza é já uma realidade nas Selvagens…obviamente que, dadas as características inerentes à sua localização, ainda tem uma expressão inferior ao desejado.
Actualmente a maioria das visitas são efectuadas por navegadores estrangeiros em rota para as Canárias, mas era muito bom que as Selvagens entrassem no pacote de propostas disponibilizado pelas empresas aos turistas e, por consequência, aos residentes. Nós já temos criadas as bases administrativas e logísticas para que isto aconteça, a iniciativa fica agora do lado das empresas privadas.
JM - As Selvagens têm tido a devida divulgação nacional e internacional, enquanto Reserva Natural? Que mais poderia ser feito a este nível?
PO - Eu diria que sim. Por um lado o acompanhamento e o apoio que é dado aos investigadores que nos visitam tem resultado em inúmeros trabalhos técnicos divulgados em múltiplas conferências internacionais. Noutro tipo de divulgação, dirigida a leigos, diria também que a aposta feita neste ano de aniversário especial, em que contamos com a gentileza do João Rodrigues nos apadrinhar, foi uma aposta ganha. O João conseguiu levar o nome da Reserva ainda mais longe…
JM – Os vigilantes nas Selvagens e/ou as autoridades têm detectado situações de infracções por parte de embarcações que cruzam aquela zona, como por exemplo, lixos deitados ao mar?
PO - O lixo oceânico é um problema que ultrapassa a dimensão das Selvagens, as autoridades regionais pouco podem fazer para prevenir este problema que se estende a todos os oceanos do mundo. O número de infracções estritamente ligadas à nossa jurisdição são pontuais e por estarem controladas não nos suscitam preocupações de maior. Até porque existe uma disponibilidade enorme por parte da Marinha e da Força Aérea para responderem às nossas solicitações, como aconteceu recentemente com a identificação de duas embarcações semi-rígidas em actividades ilegais na Selvagem Pequena.
Entrada livre, mas com serviços pagos
JM - Por outro lado, qual será a estratégia do Parque para continuar o seu trabalho nas diversas valências a nível regional (florestas, conservação da fauna e flora e nas Reservas naturais), numa conjuntura de menos dinheiros disponíveis?
PO - Eu acredito que em qualquer conjuntura económica as Reservas Naturais deveriam criar estratégias e mecanismos de auto-sustentabilidade, fundamentalmente através da venda de merchandising, mas também através da oferta de serviços especializados (por exemplo visitas guiadas). Saliento o facto de que não acredito que a solução seja cobrar uma taxa só para “por o pé em terra”, o que eu acredito é na disponibilização de serviços pagos por aqueles que queiram usufruir dos mesmos. Eu vejo isto numa lógica de “centro comercial”: a entrada é livre, só se paga o que comprarmos ou os serviços que usarmos.
JM - As candidaturas a apoios comunitários poderão ser determinantes para os vossos objectivos?
PO - Além da estratégia atrás referida acho que o caminho tem que ser através de financiamentos externos (eles existem para serem usados …). Aliás devo referir que a gestão das áreas protegidas, suas espécies e habitats tem sido efectuada fundamentalmente com suporte financeiro externo (comunitário ou outro). É importante realçar que isto não configura um voltar de costas por parte do Governo Regional, antes pelo contrário. O SPNM tem acesso a fundos externos porque internamente foram criadas as condições que nos permitem ter acesso a esses mesmos apoios, designadamente, por exemplo, ao nível dos encargos com o pessoal e manutenção da pesada logística que a nossa missão envolve.
Política tem sido árvore com bons frutos
JM - Estando a iniciar-se um novo mandato do Governo Regional, as políticas a implementar a área que tutela serão de continuidade ou haverá mudanças?
PO - A política de conservação da natureza na Madeira tem sido uma árvore que tem dado muitos e bons frutos…não vejo qualquer razão para que não exista uma perspectiva de continuidade da mesma.
JM - Que projectos é que o PNM pretende ainda implementar para a conservação da natureza e das espécies?
PO - Essa é uma pergunta que não pode ser respondida de forma objectiva. Como já referi, a conservação da natureza é um processo dinâmico e existe sempre o passo seguinte que vem consolidar o anterior. Posso lhe dizer que neste momento todas as áreas prioritárias para a conservação da natureza estão classificadas como área protegida e/ou Sítio da Rede Natura 2000 e todas as espécies com estatuto de conservação menos favorável são alvo de projectos específicos. Isto significa que os próximos projectos devem surgir no enquadramento lógico dos que já existem. A criação dos mecanismos de auto-sustentabilidade atrás referidos é um projecto que em muito beneficiaria a conservação da natureza na RAM.
JM - Quanto à área florestal, como tem decorrido os trabalhos de reflorestação?
PO - O trabalho de reflorestação é da competência da Direcção Regional de Florestas e em minha opinião tem sido superiormente conduzido.
JM - Agora com a chegada do tempo de chuvas e atendendo ao facto de ter sido queimada pelos incêndios do ano passado uma enorme parcela de floresta, quais as vossas preocupações?
PO - Este é o segundo inverno pos – incêndios pelo que a estabilização das áreas afectadas já evoluiu de forma positiva comparativamente ao ano passado. Obviamente que estamos perante áreas fragilizadas que podem ser afectadas outra vez se a Madeira for alvo de um regime torrencial fora do habitual.
JM - A outro nível, como está a decorrer o inventário do património rural da Madeira?
PO - Esse é um trabalho muito importante na nossa lógica de interpretação da conservação da natureza e dos bens culturais em áreas rurais. O levantamento está a decorrer bem e em breve será disponibilizado todo o conjunto de resultados obtidos até ao momento. É importante referir que o nosso objectivo não é intervir sobre esse património, não temos competências para tal, mas sim alertar para a sua existência e para a necessidade de preservarmos as nossas vivências e memórias colectivas.
Freiras da Madeira e do Bugio estão estáveis
O habitat da freira da Madeira (“Pterodroma madeira”) está «em franca recuperação», como garantiu o director do Parque Natural da Madeira, em declarações recentes ao JM. Paulo Oliveira pronunciava-se a respeito dos trabalhos de intervenção para a reabilitação dos ninhos e da colocação de mantas anti-erosivas na área de nidificação da espécie, após os incêndios de Agosto do ano passado que destruíram grande parte do maciço montanhoso central e que afectou esta comunidade.
Durante o ano em curso, os esforços desenvolvidos pelo pessoal do SPNM já começaram a dar os seus frutos, tanto que, «as aves já começaram a nidificar e a normalidade será atingida». O responsável explicou ainda que, como os incêndios afectaram sobretudo os habitats e as espécies juvenis sendo que a população reprodutora não foi tão atingida, «o decréscimo que houve o ano passado, por causa daquele desastre, não terá expressão a médio prazo». A estimativa populacional da Freira da Madeira ronda actualmente os 65 e os 80 casais reprodutores.
No que diz respeito à Freira do Bugio (“Pterodroma feae”), Paulo Oliveira explicou que a erradicação dos coelhos e dos murganhos permitiu a recuperação do habitat de nidificação desta espécie. Neste momento, esta ave, apesar de continuar ameaçada, «o seu número é estável, com tendência de crescimento, e que até vai acentuar-se» fruto ao trabalho que foi desenvolvido com o Projecto LIFE Natureza para conservação da Freira da Madeira e recuperação do habitat (2006-2010) e com o trabalho de acompanhamento que é feito nesta área. Assim, existem cerca de 160 casais reprodutores da espécie endémica.
Nasceu lobo-marinho
A colónia de lobos marinhos das Desertas tem mais um elemento, conforme noticia a página do Facebook do Parque Natural da Madeira.
«O seu mais recente elemento, que deve contar menos de um mês de idade, foi visto na Praia do Tabaqueiro durante uma visita de monitorização efectuada pelo Staff do SPNM», lê-se. Ficou ainda a promessa de que assim que o novo membro da comunidade seja fotografado, serão publicadas fotografias no Facebook.
Fonte: Jornal da Madeira
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