sexta-feira, 13 de julho de 2012

Refúgios selvagens são cruciais para sobrevivência do lobo-ibérico


    Estudo diz que refúgios selvagens são cruciais para sobrevivência do lobo-ibérico
 

    O lobo-ibérico, espécie em perigo e que tem vindo a perder habitat, consegue viver no meio de estradas e casas desde que tenha refúgios selvagens para se esconder, revela um estudo de investigadores na Galiza, publicado na revista Diversity and Distributions.
No espaço de 100 anos, o lobo-ibérico (Canis lupus signatus) perdeu 80% do seu habitat original em Portugal. Esta regressão tem várias explicações. Entre elas estão a escassez de áreas de refúgio e a fragmentação do habitat, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Mas, mesmo numa paisagem cada vez mais humanizada, o lobo-ibérico consegue sobreviver, desde que as características do habitat lhe permitam refugiar-se do ser humano, concluiu uma equipa de cientistas espanhóis que palmilhou 30.000 quilómetros quadrados na Galiza.

A equipa coordenada por Luis Llaneza*, da A.RE.NA. (Asesores en Recursos Naturales), analisou um total de 1594 excrementos de lobo que, posteriormente, foram comprovados através de análises moleculares de ADN, para localizar a distribuição dos animais no território.

No estudo, publicado nesta terça-feira, os investigadores revelam que “as características da paisagem – que facilitem que os animais possam passar despercebidos pelos humanos – (...) tornam-se mais importantes em paisagens dominadas pelo ser humano e podem ter um papel crucial na ocorrência e persistência desta espécie, ao longo de décadas”. Mais concretamente, os investigadores concluíram que, na Galiza, os factores que mais limitam a distribuição do lobo são os refúgios na paisagem (48%) - com zonas mais elevadas e vegetação significativa -, seguido da presença humana (35%) e da disponibilidade alimentar (17%).

Gonçalo Brotas, coordenador técnico da Associação de Conservação do Habitat do Lobo Ibérico, disse nesta sexta-feira ao PÚBLICO que as conclusões deste estudo podem aplicar-se a algumas zonas com lobos em Portugal. “Este estudo baseia-se num contexto em que existe um limite mínimo de alimento disponível, como é o caso da Galiza. Aqui, o refúgio é o factor mais importante. Em Portugal, o Alto Minho será a zona mais parecida, porque a disponibilidade de alimento é grande. O mesmo já não acontece a Sul do Douro, onde não há grandes presas”, acrescentou.

A associação, criada em 2006 e de âmbito nacional desde 2010, recupera habitats para o lobo-ibérico no Alto Minho e a Sul do Douro. “A diferença de habitats justifica diferenças na nossa intervenção. No Alto Minho tentamos criar zonas de refúgio, através da reflorestação, por exemplo. Já a Sul do Douro, a prioridade vai para o fomento de presas selvagens”, como o corço.

Para Gonçalo Brotas, o estudo agora publicado é importante porque “dá orientações em relação ao que se deve promover e ter mais atenção a determinados aspectos”.

Em Portugal, o lobo-ibérico é espécie estritamente protegida pela legislação nacional desde 1988. Hoje, estima-se que existam cerca de 300 lobos e 60 alcateias, especialmente a Norte do rio Douro. Na semana passada, um lobo-ibérico ferido numa armadilha ilegal na região de Montalegre foi restituído à natureza depois de ter estado dois meses e meio no Hospital Veterinário da Universidade de Trás-os-Montes (UTAD) em recuperação. A pata direita traseira teve de ser amputada mas Pedro Silva, o veterinário responsável pela sua recuperação, disse nesta quarta-feira ao PÚBLICO que o animal “apresentava excelentes condições corporais”.

“Enquanto esteve no centro de recuperação, o lobo ganhou muita massa corporal e passava a noite a movimentar-se na câmara exterior onde foi colocado. Houve momentos em que saltou quase 3 metros de altura, num sinal de querer fugir”, acrescentou. “Acho que tem hipóteses de sobreviver. Até porque mais importante do que a parte física, é saber se consegue integrar-se na alcateia”, considerou.

Fonte; Público/Helena Geraldes

* Luis Llaneza, Biólogo, participou como orador no I Congresso Ibérico de Vigilantes da Natureza, Agentes Forestales e Medioambientales, organizado pela Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza.

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