Relatório da Comissão Europeia mostra que não estamos
a fazer o suficiente para proteger a natureza
A
União Europeia comprometeu-se a parar a perda de biodiversidade até 2020, mas o
relatório de 2015 mostra que estamos aquém dos objetivos traçados. Os cidadãos
estão preocupados com as consequências.
Os Estados-membros da União
Europeia (UE) comprometeram-se, em 2011, a travar a perda de biodiversidade
e da degradação dos ecossistemas até 2020. Já é possível
identificar alguns progressos em domínios específicos ou em ações locais,
mas os resultados da revisão intercalar da Estratégia de Biodiversidade da UE “sublinham ser
necessário envidar mais esforços para cumprir os compromissos assumidos pelos
Estados-membros em matéria de execução”. Esta orientação é
reforçada porque os cidadãos reconhecem que a perda de biodiversidade tem
impactos na saúde e bem-estar, mas também em termos económicos, como revela um estudo publicado também esta sexta-feira.
Fórum Económico Mundial, em 2015, colocou a “a
perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas” entre os 10 maiores
riscos globais.
De forma geral,
a perda de biodiversidade e a degradação dos ecossistemas é pior em 2015 do que
era em 2010, quando a União Europeia estabeleceu estas medidas, refere o relatório. Esta é a tendência geral e terá implicações
importantes nos serviços futuros que a natureza poderá prestar à humanidade. No
entanto, o relatório refere que alguns exemplos localizados mostraram
resultados positivos e exorta os estados a tornarem estas ações mais globais.
10 pontos
a reter do relatório:
- 70% das espécies da União Europeia estão ameaçadas pela
perda de habitat;
- O número de espécies e habitats que se mantiveram
ou aumentaram o estado de conservação é apenas ligeiramente maior do
que no último relatório;
- As espécies e habitats que já estavam em condições
desfavoráveis assim o continuaram ou ainda pioraram;
- As zonas húmidas, costeiras e oceânicas e os
ecossistemas agrícolas continuam a ser as áreas mais ameaçadas;
- Crescimento urbano, agricultura intensiva,
abandono das terras, poluição, alterações climáticas, introdução de
espécies exóticas, assim como sobre-exploração de recursos, nas florestas
ou nos oceanos, são as principais ameaças à biodiversidade;
- A criação de uma rede Natura 2000
dedicada aos ambientes marinhos deve ser uma prioridade;
- São necessários mais esforços para garantir que
as políticas agrícolas têm em conta a preservação da biodiversidade. Os
exemplos locais mostraram as vantagens da práticas agrícolas
sustentáveis;
- A área global das florestas aumentou na UE, mas o
estatuto de conservação diminuiu, sendo necessário criar critérios para
uma exploração florestal sustentável;
- Apenas 10% dos desembarques de pescado do mar
Mediterrâneo e mar Negro vêm de stocks estudados e 90% dos stocks
estudados continuam sobre-explorados;
- O único objetivo em vias de ser cumprir as metas
para 2015 está relacionado com o controlo de espécies invasoras.
Os cidadãos
europeus estão preocupados com a perda de biodiversidade
O Eurobarómetro
dedicado à Biodiversidade publicado esta sexta-feira mostra que a maioria dos
cidadãos portugueses e europeus “concorda totalmente” que têm a
responsabilidade de cuidar da natureza e que se não o fizerem isso
terá impacto na saúde e bem-estar, no desenvolvimento económico e nas
alterações climáticas. Se incluirmos também os que “tendem a concordar” então
temos a quase totalidade dos inquiridos a partilharem este tipo de preocupações.
Pelo menos
metade dos cidadãos portugueses e europeus consideram“grave” ou “muito
grave”a perda de espécies e de habitats e a destruição dos ecossistemas. A
grande maioria dos inquiridos considera este assunto “sério” ou “muito sério” e
estão razoavelmente bem informados sobre as maiores ameaçadas à biodiversidade.
Mais grave é que dois terços dos inquiridos em Portugal (e quase três quartos
na União Europeia) “nunca ouviram falar” da rede Natura 2000.
Rede Natura
2000 é… uma rede ecológica para o espaço comunitário da
União Europeia que tem como finalidade assegurar a conservação a longo
prazo das espécies e dos habitats mais ameaçados da Europa, contribuindo para
parar a perda de biodiversidade, como explica o
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
Cerca de metade
dos cidadãos portugueses e europeus concorda que: a UE deve “trabalhar em
conjunto com outros países para incluir a proteção da biodiversidade nas
políticas e acordos de comércio globais”, “encorajar as empresas a tomar
medidas para reduzir o seu impacto na biodiversidade” e “introduzir requisitos
de sustentabilidade obrigatórios para bens importados”.
A importância da biodiversidade em números, segundo a Comissão Europeia:
- Um em cada seis empregos na União Europeia dependem em certa medida da
natureza;
- Os serviços de polinização por insetos valem 15
mil milhões de euros por ano na UE;
- Os 5,8 mil milhões de euros gastos anualmente
para manter a rede Natura 2000, correspondem a 200 a 300 mil
milhões de euros ganhos no mesmo período em serviços de natureza;
- A agricultura biológica cria mais 10 a
20% de empregos que a agricultura convencional;
- Todos os sectores juntos podem perder 12
mil milhões de euros anualmente devido às espécies invasoras;
- A perda de serviços de natureza pode equivaler a 7%
do PIB mundial em cada ano.
Fonte: OBSERVADOR
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