Mais um falhanço na área da biodiversidade: um estudo divulgado hoje sugere que o mundo não está a conseguir conter o impacto das espécies invasoras – aquelas que não existem numa determinada região e que, uma vez introduzidas, causam impactos consideráveis nos ecossistemas.
Controlar as espécies exóticas problemáticas era uma das sub-metas incluídas no objectivo internacional de reduzir substancialmente o ritmo de extinção de espécies até 2010. Mas acabou por contribuir para o fracasso já reconhecido daquela meta global. “Para este indicador de ameaça à biodiversidade, a meta de 2010 (...) não foi cumprida”, escrevem Melodie McGeoch e outros investigadores da Universidade de Stellenbosch (África do Sul), da organização Birdlife Internacional e da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), num artigo publicado hoje na revista Diversity and Distributions.
As invasoras normalmente competem com outras espécies locais, comprometendo a biodiversidade. Em Portugal, há muitos casos conhecidos de plantas, como as acácias e o jacinto-de-água, de peixes, como a perca-sol, e de invertebrados, como o lagostim-vermelho.
Não existe ainda uma forma acordada internacionalmente para medir as tendências e o impacto das espécies invasoras. O artigo hoje divulgado é uma tentativa neste sentido. A partir de um conjunto representativo de 57 países (Portugal não está incluído), os investigadores avaliaram o número de espécies exóticas invasoras, a pressão que exercem sobre a biodiversidade e a resposta política, em termos de adesão a acordos internacionais e de planos nacionais para enfrentar o problema.
Foram identificadas 542 espécies invasoras nos 57 países – um número que o próprio artigo reconhece como subestimado. Em países menos desenvolvidos, por exemplo, há menos investigação e, portanto, menos informação disponível. Na Guiné Equatorial, apenas nove espécies estão documentadas. Na Nova Zelândia, são 222. O menor número também resulta do próprio nível de desenvolvimento: um país mais pobre tem menos trocas comerciais com o exterior, e por isso menos transporte internacional – uma das principais vias de entrada de espécies exóticas num país.
Anfíbios são os mais afectados pelas invasoras
Os cientistas concluíram que as invasoras estão a ter um impacto negativo na biodiversidade global. Quem mais sofre são os anfíbios: pelo menos 205 espécies ficaram em maior risco de extinção primordialmente devido a espécies exóticas. Para outras 41 espécies de anfíbios, as invasores foram uma causa secundária para a sua maior vulnerabilidade. Um fungo patogénico, possivelmente originário de África e disseminado pela exportação de sapos na década de 1930, é a causa principal. “Era completamente desconhecido até 1998, mas acredita-se que é o responsável pelo dramático declínio de muitas populações de anfíbios em todo o mundo”, afirma Melodie McGeoch, numa entrevista ao PÚBLICO por email.
Pelo menos 54 aves e 23 mamíferos também têm sido directa ou indirectamente afectados por espécies invasoras, segundo o estudo.
Apesar de haver mais acordos internacionais que podem ajudar a conter o problema das espécies invasoras, a nível nacional ainda está muito por fazer. “Apenas 55 por cento dos países signatários da Convenção da Diversidade Biológica tem legislação nacional relevante para as espécies invasoras”, diz o artigo.
A conclusão da investigação não é animadora: “Não há actualmente nenhuma evidência a sugerir que a adopção de políticas tenha resultado num declínio do impacto sobre a biodiversidade”.
Estes novos dados adicionam mais pessimismo sobre os actuais esforços mundiais para conter a perda de biodiversidade. Em 2002, a comunidade internacional assumiu, no âmbito da Convenção da Diversidade Biológica, a meta de “atingir até 2010 uma significativa redução do actual ritmo de perda de de biodiversidade”. Mas o ano começou com a assunção oficial, através de declarações do secretário executivo da convenção, Ahmed Djoghlaf, de que a meta não foi atingida. A União Europeia também já reconheceu que falhou o seu compromisso.
Fonte: Publico.pt
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
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