A perda de biodiversidade tornou-se um problema muito sério no mundo moderno e, por causa da actividade do Homem, deu-se uma quebra no habitat de muitas plantas e animais que, consequentemente, não sobreviveram. A ciência é crucial para salvar os seres em risco, mas não é suficiente sem uma intervenção política em tempo útil. Por isso, para lembrar a importância da Biodiversidade e mobilizar consciências mundiais, 2010 foi escolhido para ser o Ano Internacional da Biodiversidade – lançado hoje e amanhã em Paris.
A multiplicidade de seres, existentes hoje, resulta de quarto mil milhões de anos de evolução de várias espécies e a ligação que estes mantêm entre si assenta numa regra simples: todos são necessários – e este é o princípio básico para manter a vida na Terra. Cada animal ou planta desempenha um papel que torna o sistema de funcionamento da Natureza perfeito ou, pelo menos, mantinha até o ser humano começar a ‘fazer mudanças’.
Já o biólogo O. E. Wilson, da Universidade de Harvard (EUA), dissera que os insectos são tão importantes que se viessem a desaparecer, "a humanidade provavelmente não sobreviveria para além de uns poucos meses".
A afirmação é taxativa e a explicação é simples: tendo em conta que a Biodiversidade se refere à variedade de vida no planeta Terra e às funções ecológicas executadas pelos organismos nos ecossistemas – inclui a totalidade dos recursos vivos, biológicos, e genéticos e os seus componentes –, a espécie humana depende dela para a sua sobrevivência. E não se trata apenas de uma questão de cadeia alimentar.
Por exemplo, se as aranhas desaparecessem todas ou grande parte delas, o número de insectos aumentaria e gerariam pragas – que devastariam campos de cultivo, acabando com o sustento de várias famílias, espalhando doenças que se iam multiplicando e ficávamos sem meios para travar a maior parte dos vírus que daí adviessem, já que os insectos são os maiores transmissores de patologias.
«God Save the Queen»
Para a natureza, todos os seres são úteis e têm a sua razão de ser, fazendo parte de um contexto geral no qual o próprio homem tem o seu lugar. Ainda Albert Einstein alertou: "Quando as abelhas desaparecerem da face da Terra, o homem terá apenas quatro anos de vida". O processo seria lento, mas eficaz.
Este himenóptero tem um importante papel polinizador e todo o ecossistema seria alterado sem ele. A função ecológica das abelhas é fundamental na manutenção da diversidade de espécies vegetais e para a reprodução sexual das plantas.
Durante as suas visitas às flores, estes insectos transferem o pólen de uma para outra, promovendo a chamada polinização cruzada – os grãos de pólen caem e atingem o estigma, o elemento feminino da flor, provocando a sua fecundação – e é nesse momento que ocorre a troca de gâmetas entre as plantas. Uma boa polinização garante a variabilidade genética dos vegetais e a formação de bons frutos.
As células existentes no ovário da flor desenvolvem-se, geram frutos e sementes que, germinando, fazem nascer novas plantas, garantindo a continuidade da vida vegetal. No Entanto, a sua função não se esgota aqui, porque ainda as abelhas são responsáveis pelo fornecimento de cera, geleia real, mel, pólen, própolis e seu veneno, todos produtos amplamente aproveitados como alimento natural ou finalidade medicinais preventivas e curativas.
Os EUA são a segunda potência da apicultura, a seguir à China, e a extinção deste insecto iria mexer com o sistema económico a nível global. A própria secretária da Agricultura norte-americana lembrou que "sem abelhas deixa de existir Coca-Cola". Muitos especialistas chegam a evocar o hino do Reino Unido «God Save the Queen» (Deus Salve a Rainha), referindo-se à rainha-mãe das abelhas.
Outro animal, aparentemente isolado, como o urso polar, que habita as regiões do círculo polar Árctico e territórios envolventes, nomeadamente, Canadá, Alasca, Sibéria, Gronelândia e ilhas próximas, como Svalbard (Noruega) e Wrangel (Rússia), também tem o seu contributo e a sua falta pode chegar até nós de forma devastadora.
Se estes animais desaparecessem, haveria uma superabundância de peixes nessas zonas; logo, estes, em pouco tempo deixariam de ter alimentos – a flora marinha seria desde logo afectada. As algas, por exemplo, são componentes importantes dos ecossistemas marinhos, contribuindo para elevar a biodiversidade. São plantas avasculares (possuem vasos de transporte), fotossintéticas (consumem dióxido de carbono e produzem oxigénio) e estão na base da cadeia trófica servindo de alimento a peixes, moluscos, esponjas, etc.
Um relatório divulgado pela associação internacional World Wild Fund for Nature (WWF), no ano passado, já avisava sobre o impacto das alterações climáticas sobre as espécies mais emblemáticas do planeta, e traçou um quadro assustador: "Imaginam um mundo sem elefantes na savana africana, onde os orangotangos apenas existem em cativeiro ou em que as imagens de ursos polares em cima de icebergs só persistem em filmes?".
Este é um dos animais mais ameaçados pelas alterações climáticas e está condenado a extinguir-se dentro de uns meros 75 anos. Com o degelo das calotes polares, muitos ursos têm sido encontrado afogados longe dos seus territórios naturais, vítimas do deslocamento de imensas massas de gelo que se separam com os animais em cima e que acabam por derreter, deixando-os longe de um local firme e levando-os a morrer.
Análise em Portugal
Ao longo dos últimos seis anos, mais de 70 cientistas de dez universidades portuguesas participaram na análise das condições naturais do nosso país e traçaram cenários sobre o nosso relacionamento com o meio ambiente até 2050. Tiveram em mente o bem-estar humano ao fazerem a avaliação de Portugal à mesma luz com que as Nações Unidas tinham patrocinado a ideia do levantamento a nível global.
O resultado apurado foi que 40 por cento dos rios estão em mau estado, 70 por cento das espécies de água doce estão ameaçadas, os recursos pesqueiros no oceano estão sobreexplorados e os escassos bons solos já estão afectados por “más práticas agrícolas e impermeabilização urbana". O relatório da WWF compila dados de vários relatórios científicos e, segundo este, o cenário leva consequentemente à perda de biodiversidade.
No contexto da comemoração do Ano Internacional da Biodiversidade em 2010 proposta pela Organização das Nações Unidas, o governo português decidiu criar um Comité de apoio à iniciativa, cujo objectivo é criar um conjunto de actividades comemorativas em Portugal e nos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). O Comité Português para o Ano Internacional da Biodiversidade irá funcionar com o apoio da Comissão Nacional da UNESCO, criando parcerias com o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
Haverá uma série de exposições e ainda um concurso a implementar nas escolas sobre «Alterações Climáticas e a Biodiversidade», um Encontro Internacional de Jovens Cientistas do Futuro e uma acção de formação destinada a professores de Cabo Verde, entre outras iniciativas.
Pegada Ecológica
Cada ser vivo necessita de uma quantidade mínima de espaço natural produtivo para sobreviver. A Pegada Ecológica permite calcular a área de terreno produtivo necessária para sustentar o nosso estilo de vida e quanto maior for, mais recursos são consumidos e assim consequentemente, desde o tipo de alimentação, lixo produzido, energia utilizada, etc.
Segundo o Relatório Brundtland, na Pegada Ecológica está implícita a ideia de que dividimos o espaço com outros seres vivos e um compromisso geracional, isto é, “capacidade de uma geração transmitir à outra um planeta com tantos recursos como os que encontrou”. Este documento foi elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, faz parte de uma série de iniciativas, que reafirmam uma visão crítica do modelo de desenvolvimento adoptado pelos países industrializados e reproduzido pelas nações em desenvolvimento, e que ressaltam os riscos do uso excessivo dos recursos naturais sem considerar a capacidade de suporte dos ecossistemas.
Existem actividades diárias simples que podem contribuir para a diminuição da nossa Pegada Ecológica, como: reciclar, utilizar aparelhos eléctricos e electrónicos de baixo consumo, reduzir o uso de sistemas de climatização, investindo em bons isolamentos na habitação, preferir produtos produzidos localmente e especialmente ecológicos, pois consomem menos combustível no seu transporte, produzindo menos emissões e contribuem para a manutenção do emprego e para o desenvolvimento da economia regional, entre outros hábitos.
Se adoptarmos comportamentos mais amigos do ambiente que, directa ou indirectamente, permitem reduzir a quantidade de recursos necessários às nossas actividades diárias, reduzir emissões de dióxido de carbono, isso poderá implicar salvar a vida de algumas espécies, além da nossa "Humanidade".
Fonte: CiênciaHoje
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=38919&op=all
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
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