sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Dia Nacional do Vigilante da Natureza, 2 de Fevereiro de 2012



 
   Comunicação da APGVN nas Comemorações do Dia Nacional do Vigilante da Natureza:

   Nestes tempos difíceis em que vivemos, muitos de nós, nos questionamos sobre o futuro da nossa profissão.

As respostas vão desde as que nos situam entre as profissões com maior futuro, até aquelas que vaticinam que temos os dias contados.

Ao longo dos 36 anos de existência da profissão sempre tivemos como horizonte o êxito e sempre encaminhamos as nossas forças nessa direcção.

É do conhecimento de todos que temos bem definido os objectivos a alcançar para a profissão, apesar de estarmos conscientes de que apenas percorremos parte desse caminho.

O Governo reestruturou os Ministérios e as Instituições, mas não clarificou como será o funcionamento do Corpo de Vigilantes da Natureza das Administrações das Regiões Hidrográficas, das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional e do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

Que planos existem para a profissão?

Não conhecemos a postura oficial do Governo sobre o futuro da profissão
.
As nossas reivindicações profissionais estão bem fundamentadas e apontam no único caminho possível, proporcionar um melhor serviço à conservação da natureza e aos cidadãos.

Talvez esta onda de mudança seja a oportunidade por que tanto esperámos para solucionar as dificuldades que a profissão sempre viveu.

Tendo em conta a conjuntura actual do país, não podemos deixar de salientar que a esmagadora maioria dos problemas que afectam a profissão podem ser resolvidos sem despesas adicionais para o estado.

Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado, Excelentíssimo Senhor Presidente do ICNB, poderemos aproveitar a criação do ICNF, para dotar os Vigilantes da Natureza com os meios necessários para um correcto cumprimento da sua missão e para uma melhor defesa do Ambiente e da Conservação da Natureza.

Não necessitamos de mais competências, necessitamos apenas do reforço das que já que temos.

Vamos aproveitar aquilo a que a lei obriga e ao rever esta carreira, efectuar as alterações adequadas.

A constituição do Corpo Nacional de Vigilantes da Natureza é possível sem que se aumente a despesa do estado.

O reforço dos quadros de pessoal pode ser concretizado com a incorporação de todos os Vigilantes da Natureza das CCDR’s, das ARH’s e do ICNB no Corpo Nacional de Vigilantes da Natureza.
E porque não? A incorporação dos agentes da Polícia Florestal que assim o desejarem.

Recordo que os Diplomas que regulam os Vigilantes da Natureza e a Polícia Florestal são muito idênticos.

Sem dúvida que a resolução destas questões depende apenas da vontade política.

Estamos convictos que a política actual do Ministério é o da defesa do ambiente e da conservação da natureza, pelo que consideramos as nossas sugestões como válidas.

A austeridade em que actualmente vivemos tem dificultado muito o desempenho cabal das nossas funções.

Nas ARH’s, nas CCDR’s e no ICNB as saídas de campo foram reduzidas aos serviços mínimos, o que implica um grande revés para a vigilância e fiscalização, e quem sai a perder é o Ambiente.

Hoje é um dia de comemoração, mas também é um dia para recordar os companheiros que temos perdido ao longo dos anos.

Recentemente perdemos um companheiro que muito admirávamos!

Carlos Alberto Rodrigues da Silva “Vidrinhos” nasceu a 4 de Junho de 1951, em Nova Lisboa, Angola.

Foi na Ilha da Madeira, anos mais tarde, que o seu amor pela natureza e sobretudo pelo mar se evidenciou.

Dedicou-se a actividades relacionadas com o mar, nomeadamente a vela e o mergulho. Esta última actividade tornar-se-ia uma das suas grandes paixões.

Durante algum tempo foi instrutor de mergulho num clube sedeado na Reserva do Garajau, e foi nessa altura que entrou em contacto com o Parque Natural da Madeira e com os Vigilantes da Natureza, quando estes efectuavam patrulhamentos naquela Reserva Natural.

Em 1991 ingressou no Parque Natural da Madeira como Vigilante da Natureza.
Os trabalhos realizados nas diversas Áreas Protegidas do Arquipélago da Madeira demonstraram a sua aptidão e o seu amor pela profissão.

Tinha como lugar de eleição a Reserva Natural das Ilhas Selvagens e um carinho especial pela Selvagem Pequena.

Após o Encontro Nacional de Vigilantes da Natureza, realizado na Madeira, foi o principal impulsionador da criação de uma Associação de Vigilantes da Natureza a nível Regional, o que aconteceu em Maio de 2003, à qual presidiu até 2007 passando posteriormente a exercer o cargo de Vice-presidente.

No passado dia 9 de Janeiro, por volta das 17 horas, ao efectuar um mergulho próximo das jaulas duma exploração de aquacultura nos mares da Ribeira Brava, o Vidrinhos não voltou à superfície.

A tristeza apoderou-se dos Vigilantes da Natureza, dos amigos e de todos o que o conheceram.

Os Vigilantes da Natureza e Técnicos do Parque Natural da Madeira, juntaram-se às buscas, na esperança de encontrar o Carlos Silva.

As buscas duraram duas semanas, mas nenhum vestígio do “Vidrinhos” foi encontrado. Ele desapareceu, talvez para sempre, no meio natural que tanto amava e protegia.

A sua grande paixão pelo mar e pelos seres que o habitam ficou bem demonstrado, quando um dia, ao mergulhar encontrou alguns Meros (Epinephelus marginatus) com sintomas de doença.

Entrou de imediato em contacto com médicos e veterinários amigos, arranjou medicação e alimento, e diariamente mergulhava para alimentar e medicar os animais.

A sua devoção e entusiasmo eram tão grandes que contagiaram muitos outros mergulhadores que passaram a acompanhá-lo nesses mergulhos.

As missões de vigilância e fiscalização nas Ilhas Selvagens são muito marcadas pelo estado do tempo e do mar, sendo a data de regresso a casa uma incógnita.

Quem presta serviço naquelas Ilhas a isso já está habituado. Mas mesmo assim ocorrem situações que ninguém espera, como a que aconteceu com o Vidrinhos, quando ficou retido nas Selvagens e teve de alterar a data do seu casamento.

O sonho de levar uns amigos às Desertas para, ao fim da tarde, tocarem uns acordes de Jazz, é demonstrativo da forma como o Vidrinhos encarava o seu papel de Vigilante da Natureza e a sua forma de estar na vida.

Que não restem dúvidas, a sua pegada ficou por cá…

1 comentários:

  • Para quando a admissão de novos Vigilantes da Natureza? Pelo que observo, não têm faltado interessados em contribuir com todo o sangue, suor e lágrimas pela missão.

    Os meus sentimentos para com a família e amigos do Senhor Carlos Silva. A sua dedicação deve ser tomada como um exemplo para todos.

    4 de março de 2016 às 15:20

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