Tejo Internacional apenas com dois vigilantes “incapazes de travar infrações ambientais”
As áreas protegidas junto ao Tejo Internacional têm sete vigilantes da natureza do lado espanhol, mas há apenas dois em território português, incapazes de travar infrações ambientais, alerta a associação ambientalista Quercus.
Construções clandestinas que crescem por falta de fiscalização, despejo ilegal de resíduos ou caça furtiva são algumas das “feridas” no território protegido diagnosticadas por Samuel Infante, dirigente da Quercus em Castelo Branco. Existe ainda extração ilegal de areias e casos de perturbação de espécies raras, como a águia imperial e o abutre negro, durante os períodos de nidificação.
O parque tem 26.484 hectares , que integram os concelhos de Idanha-a-Nova e Castelo Branco e uma pequena zona de Vila Velha de Ródão. Para além de “haver apenas dois vigilantes”, as limitações “de meios técnicos e a falta de combustível” são constantes, alerta aquele responsável, que lamenta o aparente “desinteresse” do Estado.
Samuel Infante defende um reequilíbrio “na distribuição de vigilantes da natureza, porque algumas áreas protegidas têm excesso de meios e recursos financeiros”. Outras, como o Tejo Internacional, carecem de fiscalização “e isso paga-se mais caro, de várias formas”, frisa.
Por um lado, há sempre “compromissos internacionais” para alcançar metas ambientais e quanto mais abandonados estiverem os espaços, “mais cara” se torna a manutenção futura. Por outro, desperdiça-se “um potencial enorme: há milhões de pessoas que procuram Espanha pelo património natural, que Portugal também tem, mas que não sabe usar sem destruir”.
É certo que do lado espanhol as áreas protegidas que acompanham o Tejo Internacional são maiores, mas ainda assim, a Quercus considera gritante a discrepância de meios humanos e recursos. Do lado espanhol, “já se percebeu que a preservação da biodiversidade traz desenvolvimento, por exemplo, através do turismo de natureza, que tem crescido ano após ano em todo o mundo”.
Em Portugal, “o Estado está a falhar nos compromissos básicos: quando se cria uma área protegida, tem de haver serviços mínimos”, destaca.
Álvaro Rocha, presidente da Câmara de Idanha-a-Nova, considera que o Estado devia estabelecer parcerias com as associações de caça locais para colmatar a falta de vigilantes. Segundo o autarca, na área do concelho “só há um vigilante a fazer horário de funcionário público, insuficiente para fiscalizar um parque natural”.
Tendo em conta a crise, “o Instituto [da Conservação da Natureza e da Biodiversidade] devia procurar a colaboração das populações e das reservas de caça que fazem parte do parque, para que a vigilância fosse mais apertada”. Álvaro Rocha exemplifica com um protocolo que a autarquia estabeleceu com uma das associações de caça e que serve para reforçar a vigilância contra incêndios na época de verão.
A Lusa procurou esclarecimentos junto do Parque Natural do Tejo Internacional, mas o diretor, Armando Carvalho, escusou-se a responder “atendendo à reestruturação em curso no ICNB”.
Fonte: Diário as Beiras
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