sexta-feira, 30 de abril de 2010

Meta da ONU para estancar a perda de biodiversidade não é alcançada


Um estudo publicado hoje confirma cientificamente o que muita gente já sabia por natureza: a meta da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) de "reduzir significativamente" o ritmo global de extinção de espécies até 2010 não foi cumprida. Vários países até que tentaram, mas o esforço internacional ainda está muito abaixo do necessário para frear o extermínio da biodiversidade do planeta.

"Há muitos exemplos de boas iniciativas, mas, ao mesmo tempo que cresceram os esforços de conservação, cresceram as pressões sobre os ecossistemas de uma forma geral. No fim das contas, uma coisa não foi suficiente para compensar a outra", disse ao Estado Valerie Kapos, pesquisadora da Universidade de Cambridge e conselheira do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas, que assina o estudo com outros 44 especialistas na edição de hoje da revista Science.

Resultado: o ritmo da perda de biodiversidade não só não diminuiu como aumentou desde 2002, quando a meta de redução foi estabelecida pela CDB. Segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN), o número de espécies classificadas como ameaçadas de extinção aumentou de 11 mil para 17 mil nesse período, aproximadamente.

E este é apenas um entre dezenas de indicadores avaliados no estudo. O número "real" de espécies ameaçadas ou extintas é impossível de ser calculado, já que apenas uma parte ínfima das espécies do planeta é de fato conhecida e monitorada pela ciência. A medida que ecossistemas são destruídos ou alterados, porém, é possível estimar tendências de conservação ou extinção.

"A biodiversidade é uma coisa tão complexa que é quase impossível calcular todas as suas dimensões", explica Valerie. "O que fizemos foi pegar todos os indicadores disponíveis e costurá-los numa peça só."

Entre os pontos positivos estão a criação de áreas protegidas, o aumento da área de florestas certificadas e dos investimentos em conservação da biodiversidade. Do outro lado, pesam os impactos cada vez mais severos das mudanças climáticas, da pesca predatória, da disseminação de espécies invasoras, do desmatamento e do consumo de recursos naturais (como água e solo) por uma população global cada vez maior e mais consumista.

"Nossos resultados mostram que, apesar de alguns resultados encorajadores, os esforços para reduzir a perda de biodiversidade precisam ser substancialmente fortalecidos", concluem os pesquisadores.

Positivo. O Brasil é citado como um bom exemplo no contexto do estudo, com destaque para a criação de áreas protegidas e redução do desmatamento na Amazônia. "Comparado a outros países, o Brasil fez bastante coisa", diz a bióloga Monica Peres, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) - ressaltando, porém, que aqui também os esforços estão aquém do necessário.

O biólogo Carlos Joly, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), dá "nota 7" para a atuação do Brasil junto à CDB. "O País faz um papel dualista. Ao mesmo tempo que cria unidades de conservação, sucumbe a pressões para mudar o Código Florestal e prorroga prazos para a recuperação de áreas degradadas", diz Joly, coordenador do programa Biota/Fapesp. "Precisamos sair desse conflito."

Fonte: Estadão.com.br

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